14 dezembro 2014

Hippetys

Foto: Nathália Prado

Hoje o coração apertou, pois é Domingo. 
O gosto amargo da falta do abraço parental é algo que assola a vida do intercambista. É como se faltasse algo nesse dia que sempre foi tão vazio.
Domingo é dia de recuperação de uma semana louca, corrida. É dia de aconchego no ninho, de respirar fundo e esperar pela nova semana que esta a chegar.
Eu tava com um nó na garganta que não sabia explicar. Foi então que paramos em um café: singelo, arrumadinho, quente e aconchegante: Uma decoração magnificamente simples regada a musica boa e uma rosa no meio de cada mesa. Um deleite para os olhos.
O café latte com marshmallow e o chocolate quente nos beberam inteiras enquanto conversávamos sobre a nossa casa, os costumes e particularidades de nossas famílias: gestos, fala, pensamento, risadas e tudo que lhes é de mais íntimo. Depois o assunto era a comida - que delícia! Quase pude sentir o gosto do queijo coalho na boca. Meu coração se alegrava e desafogava ao falar da minha vozinha, assim como de ouvir falar sobre os avós da minha grande amiga. Fizemos uma viagem pela capital e interior de Pernambuco regada a muitas gargalhadas e brilho nos olhos. Expectativas, sonhos, vontades e lembranças estavam contidos no chocolate e no café. O coração foi afrouxando devagarzinho a cada palavra compartilhada. Me senti verdadeiramente em casa (quase sentei na varanda e vi as estrelas). Nathália foi na minha casa e eu fui na dela e assim sentimos o aconchego de nossas famílias num domingo que seria de frio e solidão.
E mais uma vez a palavra do dia é gratidão: Por estar viva e por ter a oportunidade de fazer amigos assim, que te fazem sentir mais perto de casa e te ajudam a desatar os nós na garganta e no coração. Minha passagem na Irlanda não seria a mesma sem a tua amizade (Maria) Nathália. Mal posso esperar para conhecer a tua casa, ser a tua agente literária e compartilhar mais sonhos contigo.

09 dezembro 2014

Sobre amor


Amor é quando tu estás à km de distância e o outro sente o que tu ta sentindo somente por um laço invisível chamado sintonia.
É quando tu precisa desesperadamente de um abraço e ele vem somente com uma prece.
É quando o sol nasce e se põe.
Amor é aquilo que todo ser vivo tem de mais precioso e é inerente a todos.
Fomos feitos do amor para o amor!
É olhar as folhas secas de outono caindo, é céu azul, é a natureza em sua mais bela forma.
Amor envolve respeito por si e pelo outro.
É ser paciente, caridoso e gentil com aqueles que nos tratam com aspereza. 
O amor afaga, aquece e nos remove da condição de ignorância. 
É o maior nível de sabedoria que existe.
O amor transporta montanhas, é  fé nos desesperados e o ar dos naufragados.
É verdade e luz Divina.
Amor é silêncio e barulho também.
É paisagem e música.
Amor faz a gente se transportar até entre galáxias.
Está expresso nos pequenos e grandes gestos.
Só o amor salva!
Num dia de extremo desespero, angustia e solidão eu fiz uma prece com todas as forças que me restavam e senti a maior expressão de amor que já existiu.
O amor me salvou.

03 dezembro 2014

Três meses de Irlanda


Em conversa jogada fora com os amigos na mesa da cozinha percebemos que parece se passaram 3 anos. Os rostos carregam traços diferentes de quando aqui pisamos pela primeira vez. Uma especie de serenidade vai transparecendo nos nossos olhos, na fala, no gesto. Vamos percebendo que já nos despojamos de tantas cargas pelo caminho e até adquirimos outras de cor e texturas  completamente diferentes. Reconhecemos também partes de nós que sempre estiveram ali, mas que nunca tivemos a oportunidade de olhar com um certo estranhamento. Nos aceitamos mais e nos sentimos mais confortados de sermos. Sem agonia, sem desespero. Aquele incômodo inicial, a pedrinha no sapato, vai encontrando seu espaço e passa a não incomodar mais. Faz parte de nós também. A saudade dos afetos bate forte na porta, mas aprendemos a deixar ela entrar e tomar um chá na sala de estar. Aprendemos a sentir essa falta do domingo em família (seja ela de laço consanguíneo ou não) de uma forma gostosa, com sorriso no rosto e calor no coração. Lembrança funciona mais que aquecedor no inverno. As preocupações continuam existindo e as reclamações são culturais, mas depois a gente para e agradece por elas também. A estabilidade traz serenidade, mas também desconforto. Tu passa a conviver muito tempo com o teu silêncio e as vezes ele te incomoda. O caos que sempre existiu dentro de ti vê oportunidade de emergir, olhar na tua cara e gritar "eu tô aqui!". Tu ficas pasmo diante do que tu vês e escutas, dá até vontade de correr. Mas não dá. Tu estás de frente contigo mesmo e o jeito é ouvir essa camarada que há tanto tempo pedia voz e era sufocada pela tua incessante correria. Agora é hora de deixar essa mulher falar, entender o que ela tanto queria te dizer. Ainda não tenho total clareza do ruído que habita o meu silêncio, mas aos poucos as notas musicas vão começando a fazer sentido.

14 novembro 2014

Das flores metafóricas: Nathália Prado



Sobre essa eu vou começar com poesia, porque é a poesia que a guia. Aliás, poesia que nos guia, poesia que te guia, @poesiaquemeguia.

Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra [...]. Não chegaram a usar palavras como "especial", "diferente" ou qualquer coisa assim. Apesar de, sem efusões, terem se reconhecido no primeiro segundo do primeiro minuto [...] (Aqueles dois, Caio Fernando Abreu)”.

No primeiro dia que me deparei com essa flor pela minha vereda foi reconhecimento instantâneo. Não precisou de muito tempo para que soubéssemos que seriamos amigas para toda a vida. A cada palavra falada no sofá do apartamento 68 fez com que a gente fosse afinando de acordo com os nossos valores e ideais, e a partir daí nem precisava falar mais nada.
A poesia e a arte também nos fizeram mais amigas, era uma linguagem diferente que pouquíssimos entendiam.
Ela é um espírito em busca de liberdade, cheio de sensibilidade, carinho e dedicação a si e aos outros. Nunca se importou em dividir nada: seus sorrisos, abraços, gestos de gentileza e de carinho eram gratuitos e me fizeram sentir acolhida.
Eu a acolhi e abracei também.
Ela, desde aquele primeiro dia começou a fazer parte da minha família universal. É a irmã que o universo me presenteou. E agora também faz parte da minha poesia, do meu cenário que é reinventado e reconstruído todo dia.
Vai Nathália, abre tuas asas e voa. Continua a sobrevoar o mundo e espalhar coisas bonitas. Enche teu peito de ar e respira, mas vai com calma também. Respeita o teu tempo que é chegada a tua hora e é devagar que se chega lá. Tem fé em ti e no teu dom de ser feliz (Aponta pra fé e rema!). Transporta essas montanhas (criadas) com paciência e mansuetude. Vai menina, continua com essa força que te faz tão grande e essa doçura que te faz tão humana. Um dia de cada vez e chegamos lá. Eu tô do teu lado pra caso falte fôlego. Eu tô voando contigo e vamos conquistar o mundo! Tens aqui abraço amigo pra sorrir e chorar também (faz parte da jornada). Só não deixa a tua luz se apagar pela escuridão desse inverno que começa a nos envolver ou pelas dificuldades que estão aqui para nos fazerem melhores. Desafoga esse nó na garganta e no peito, olha pro céu e agradece a chuva que vem nos abençoar com boas novas. Tu significa muito pra mim!


Voa passarinho, que é chegada a tua hora de ser.

Foto: Camila Cicolo

13 novembro 2014

Dois meses de Irlanda


Parece que foi ontem que eu sai de casa com as malas cheias de roupas e expectativas. Uma mistura de medo do desconhecido e ao mesmo tempo calmaria. Como já repeti em postagens anteriores, tudo era lindo e maravilhoso nas primeiras semanas! Me apaixonei em cada esquina pela cidade. Depois os olhos foram ficando cansados e começaram a surgir as imperfeições provenientes do convívio diário. As dificuldades de encontrar uma casa e emprego batem à porta e você se sente só, perdido num mar de gente.
Minha primeira decepção foi ter que falar português quinhentas mil horas por dia, quando na verdade eu paguei caro para não ouvir minha língua nativa. Visto que se eu quisesse ficar nessa situação de falar inglês só na aula eu teria permanecido estudando no SENAC, cujos professores tem mais didática dos que os que eu tive aqui.
Mas eu não desisti. Mesmo convivendo com muitos brasileiros, cada oportunidade que eu tinha de praticar inglês com nativos era preciosa e eu aproveitava cada milésimo de segundo. Me jogava de cabeça sem nem pensar duas vezes.
Sim, quem faz o intercambio é você. mesmo diante de um grande desestímulo eu não desisti e agarrei com unhas e dentes todas as chances que me apareceram.
Minha primeira casa depois da acomodação foi algo que não estava no script: onze pessoas e um banheiro.  
Como vocês ja devem imaginar, viver com dez cabeças que pensam diferente não é nada fácil. São criações e estilos de vida completamente distintos. Um verdadeiro teste de paciência, resiliência, indulgência e por aí vai. Dividia o quarto com uma menina super gente boa, mas era bastante claustrofóbico: não tinha janela e nenhum espaço pra circulação no lugar. Era tão pequeno que não tinha lá dentro. Mas como tudo depende de como você enxerga a situação, o que eu tirei de bom de lá foram as amizades! E por mais que não fosse o ideal, eu tinha uma cama para dormir depois de um dia cansativo. E isso meus amigos, é bem difícil por aqui.
Não cheguei nem a ficar um mês por lá, porque graças a Deus + muito esforço e persistência consegui um emprego de Aupair live in. Para aqueles que não sabem o que danado é isso eu vou resumir: babá que mora na casa dos gringos. Nossa! Fiquei tão feliz que até queria subir em cima de uma mesa e dançar a macarena. Queria correr e gritar pelas ruas de tanta emoção! Foi uma sensação de alívio sem tamanho. A partir desse ponto tudo mudaria para melhor. Poderia dormir e acordar escutando/falando em inglês. Essa era a melhor parte: ir no supermercado e não ouvir ninguém falando em português.
Já faz quase um mês que estou nesse trabalho (eu prometo que em breve farei uma postagem só sobre ele) e já sinto que evoluí bastante. Depois das turbulências iniciais, finalmente veio a calmaria. Como é bom poder boiar nessas águas brandas e pacíficas, sem pressões, sem desespero. Só você, o céu e o mar.
Se tem uma coisa que a gente aprende aqui é a valorizar as pequenas coisas, momentos e sensações. Você aprende a valorizar o trabalho (seja ele qual for), a ter um quarto só pra ti (aquele cantinho particular pra chamar de lar), a tomar um chocolate quente num dia congelante, a ter uma bicicleta para ir até a escola. As coisas mais simples.
Você passa a enxergar a vida e tudo à sua volta de outra forma. Cada passo é uma grande conquista, é um momento de renovação. 
Eu sou a fênix renascendo das cinzas.
Depois de pegar fogo e se reduzir a pó, você renasce. Depois do sofrimento há sempre uma nova chance de ser melhor. E o mais importante: Tudo é motivo de agradecimento.
Obrigada meu Deus, por dois meses de muitas lutas e vitórias, por essa grande oportunidade de autoconhecimento e crescimento. A fé transporta sim muitas montanhas. E quando falo em fé não é no sentido estritamente religioso. É de acreditar veemente em algo. É preciso termos fé, meu amigos, em nós mesmos. É preciso transportarmos as montanhas que existem dentro de nós e que nos impedem de sair do lugar.
Minha montanha se transportou. 
Obrigada Irlanda, por dois meses de transformações.

Dublin, 11 de novembro de 2014.


11 novembro 2014

Carta a minha estrela: Larissa


Minha estrelinha,

Sinto tanto a tua falta que chega a existir um espaço oco dentro de mim. Tudo aqui me lembra você: o frio, as pessoas bem vestidas, os brechós, os pubs, os shows incríveis, a quantidade excessiva de batata frita, a musicalidade... Você esta em cada esquina que eu dobro e posso até ouvir tua risada de maravilhamento ou sarcasmo.
Dia desses um rapaz veio falar comigo e adivinha? Ele adora várias bandas que tu gosta e sabendo que eu sou brasileira me perguntou se eu conhecia Angra. Eu ri alto e disse que conhecia a banda porque a minha melhor amiga gostava. Foi engraçado! Por fim, me chamou para um drink e eu nem respondi - não era ruivo, nem fazia o meu tipo. Dei uma de doida mesmo. Provavelmente você quer me bater agora, eu sei. Tô sentindo teu olhar de fuzilamento sob mim, e isso me faz querer rir.
Sinto falta da tua risada também, principalmente de quando tu ri alto. Queria que tu pudesse enxergar pelos meus olhos, tu iria gostar da vida por aqui.
Faz tempo que a gente não se fala e eu nem sei porque. Provavelmente deve estar com a vida bem corrida aí...
Gostaria de te ver de vez em quando.
Tenho que te dizer: tu não sabe o quanto eu tenho crescido! Ficarias orgulhosa de mim.
Espero que tu estejas bem, estrelinha. E não esquece que eu estou sempre contigo!
Te amo muito,

"However far away, I will always love you
 However long I stay, I will always love you"

Carol

Dublin, 11 de novembro de 2014.

Na casa de vovó Beta


Agora que ocupo o papel de cuidadora, e sei o quão exaustiva é essa rotina, me ponho a pensar e agradecer a ti e a Deus por te ter em minha vida.
O que seria de mim, do meu irmão e dos meus primos sem a senhora?
Não haveria cuzcuz com leite de manhã.
Não haveria tomar banho de chuva cantando no quintal.
Não haveria balanco no pé de jambo (nem a própria árvore haveria).
Não haveria Benje, não haveria um almoço delicioso todos os dias.
Não haveria quem nos esperasse na volta da escola.
Não haveria a bacia amarela de pão assado + leite maltado enquanto  assistíamos desenho animado à tarde.
Não haveria chá de bordo quando a barriga doesse, nem 'lambedô' quando estivéssemos gripados...
Não haveria missa na sexta feira, nem gargalhadas sem motivo algum.
Não haveria cadeira de balanço, muito menos uma casa enorme onde pudéssemos correr e brincar a vontade.
Não haveria tanque no quintal da casa para lavarmos, nem haveria balde para que tomássemos banho de cuia.
Não haveria a Rua Francisco de Abreu onde pudéssemos jogar bola, esconde-esconde, pular corda e fazer amigos.
Não haveria a "Praça do Mariano" para que prolongássemos a brincadeira.
Não haveria Roberto Carlos, Padre Marcelo Rossi e Padre Zezinho.
Não haveria dança com César na cozinha fazendo com que desses gargalhadas.
Não haveria caldeirão de sopa de aproveitamento, nem inhame, nem macaxeira.
Não haveria infância tão feliz, nem esse amor do tamanho do infinto que as avós tem para com os seus netinhos.
Se não fosse você, vovó, eu realmente não sei o que seria de nós. Mas graças a bondade de Deus nós tivemos tudo isso. Graças a senhora! Muito obrigada por trabalhar tanto para cuidar de todos nós com tanto amor e carinho, por estar sempre de braços abertos, por brincar com a gente, por nos alimentar tão bem e contribuir imensamente  para que a nossa infância fosse a melhor de todos os tempos. Eu só cheguei até onde estou e sou quem eu sou por causa de ti também. Tenho recebido tuas preces e elas me fortalecem muito.
Tu és a véia mais cheirosa e linda do mundo inteiro! Te amo do tamanho do infinito!
Da sua neta,
Carol.

Dublin, 7 de novembro de 2014.

07 novembro 2014

Carta a um grande guerreiro: Victor

Meu irmão,
Nesse momento te preparas para uma grande batalha pela qual já tive que passar um dia. Tu me acompanhaste e sabes o quanto foi difícil todo o processo e do quanto precisamos ter forca e fé no Pai maior que nunca nos desampara.
Eu gostaria de te dizer que independente da distancia física, eu estou aí ao teu lado.
Tu vens de família de guerreiros que não fogem à luta e acreditam na vitória. Querer é poder e pensamento é energia viva. Então, põe teu pensamento e sentimento na certeza da vitória e vai com tudo. Dá o teu melhor e mostra a que tu vieste. Tu tens garra, forca de vontade e trabalhaste para que tudo isso desse certo. Acompanhei de perto todo o processo e sei que tu lutaste muito, ainda mais com tantos questionamentos internos. Já é vencedor! Eu acredito em você e no seu potencial.
Veste a tua melhor roupa de guerreiro e vai à luta! E se não der nessa batalha, muitas outras virão. É preciso ter paciência e respeito consigo mesmo também. Muitas vezes vencer não significa ganhar a batalha e sim reconhecer as falhas e aprender com elas. O que importa mesmo é a trajetória. Então vá, se jogue! Mergulhe de cabeça e faça o melhor que você puder como em tudo na sua vida. Tenha fé em Deus e em si mesmo. Acredite em você.
Tu és luz!
Tu és partícula divina!
Tu vais conseguir!

Vai em frente grande guerreiro e que brilhe a vossa luz!

Ps.: Envie-me uma mecha do seu cabelo raspado.
 Te amo!


Dublin, 7 de novembro de 2014

02 novembro 2014

Bruna e o mar


A menina se posicionava em frente `a imensidão azul acinzentada e sorria, serena. 
Se sentia um pinguinho naquele oceano que já fazia parte dela e para o qual já havia se confessado tantas vezes diante de lagrimas.
Se perdera em um outro mar, verde esmeralda, para se encontrar pela primeira vez. Dera-se conta do barulho caótico que habitava dentro de si, sozinha.
Se fez escuro e tempestade. E depois de se olhar nua e crua, reconhecendo sua pequenez diante daquele gigante, ela cresceu. 
A água gélida curou suas dores e chagas. A correnteza levou-a para junto de si, e assim desenvolveu um profundo amor e respeito por ela mesma.
O mar foi seu melhor amigo por muito tempo, talvez o único. Bastava uma troca de olhares e o entendimento era instantâneo. Sua voz doce enebriava os ouvidos dela e seu cheiro a envolvia num abraco apertado que aconchegava. 
Bruna amava o mar.
Com o mar Bruna aprendeu a se amar.

Dublin, 02 de Novembro de 2014.

28 outubro 2014

Greystones


Lá estava eu correndo pelas ruas de Dublin para chegar à minha primeira entrevista de emprego. Um lugarzinho bem afastado do centro, perto do mar. Meu primeiro espanto: o valor da passagem. Cinco euros e setenta cents só de ida, um valor bem "salgado" para transportes em Dublin. Mas fui assim mesmo! Meu coração bateia acelerado, minhas mãos estavam geladas e meu pensamento estava a mil por hora. Sentei-me na janela e  medida de que o Dart (espécie de metrô) seguia caminho meu coração foi desacelerando diante do que meus olhos presenciavam. Uma paisagem linda cheia de verde, mar e casinhas tipicamente irlandesas - totalmente diferente da região central de Dublin. Eram lugares que dava vontade de morar só de olhar, pareciam espaços que facilmente poderia chamar de lar. Senti-me na Irlanda pela primeira vez! 
O nervosismo esvaiu-se e meu coração encheu-se de esperança e fé. Naquele momento eu soubera que não moraria em Dublin por muito tempo.Aqui não há como prever, mas se depender do meu coração eu não fico nessa cidade não.
A mulher que me recebera foi extremamente amável desde a primeira mensagem até o último segundo do nosso encontro. Seus olhos eram bondosos, eu podia sentir. Eles eram o tipo de família que eu gostaria de conviver. A distância não me permitiria ficar pelas obrigações com a escola, mas um pedacinho do meu coração ficou naquele lugar chamado Greystones.

Intercambio na Europa: Nem tudo são flores.


A primeira coisa que as pessoas pensam quando você diz que vai fazer intercambio na Europa:
1 - Rica
2 - Vai curtir a vida adoidado
3 - Tá com a vida ganha

Apenas uma informação para vocês: Nenhuma das alternativas acima.
Sim, nós sonhamos muito tempo com um intercâmbio. Entretanto, não significa que na realidade ele seja um sonho. Tudo bem, existe muita gente com um excelente poder aquisitivo (leia-se, gente rica) que vai fazer intercambio sem passar sufoco. Mas não é desses que eu venho falar.
Eu venho contar a história daqueles que, assim como eu, não tem pais ricos ou uma conta gorda no banco.
Eu faço parte daquele grupo cujos pais (ou a pessoa mediante muito trabalho e esforço) teve que fazer "das tripas coração" para conseguir juntar dinheiro para pelo menos te colocar fora do país. Ou seja, para se manter lá fora você precisa trabalhar muito. Isso se você quiser, no mínimo, comer e ter lugar para morar. Muitos até podem me julgar por eu ter 21 anos, morar com a minha família e SÓ estudar (como se fazer graduação em universidade pública + curso de inglês todos os dias fosse fácil). Mas meu caminho sou eu quem trilho e ninguém tem nada a ver com isso. Ponto final.
Há algum tempo senti a necessidade de buscar a minha independência financeira e principalmente emocional. Queria o grande desafio de sair da zona de conforto e me lançar no desconhecido. Porque quando tu estás de fato sozinho  é que tens mais chance de entrar em contato contigo mesmo. É claro que nem todo mundo está disposto a isso. Existem várias saídas independente da distância que você esteja de casa. Muito depende da vontade e isso é uma coisa que eu tenho de sobra.
Vontade de me libertar das amarras que eu mesma e o Outro colocaram em volta de mim. 
Vontade de mergulhar profundamente em meu âmago.
Vontade de ir além do que se vê, se sentir medo e aprender a conviver com ele, de reconhecer minhas fraquezas e aceitar que eu não preciso ser forte o tempo todo, de sentir saudade e aprender que a distancia não é nada para aqueles que verdadeiramente se amam, de desapegar de tudo que é material e que nunca nos pertenceu ou pertencerá, de me conectar com Deus de forma muito mais profunda e intensa - já que Ele é o meu melhor amigo onde quer que eu esteja. Intercambio não é fácil. Requer desprendimento e muita coragem de se jogar no vazio. Você vai para um lugar a milhões de km de distância da sua casa, não conhece nada nem ninguém, onde as pessoas não falam a tua língua materna, onde tu vai ter que matar um dois leões por dia para conseguir uma casa pra morar e um emprego pra se sustentar. Vai ter que morar numa casa com gente que tu não conhece, com a possibilidade de se dar bem ou não, e por aí vai.
Intercambio é incerteza. E como o que normalmente nós desejamos é a estabilidade, sofremos por um bom tempo. Alguns mais, outros menos. Até que você não lute mais contra as sensações que apavoram e deixe-as ir e vir como uma onda no mar.
Eu, com minhas singelas 3 semanas na Irlanda, ainda estou na fase do: fica feliz - fica apavorado, fica feliz - fica apavorado, fica feliz - fica apavorado (Chicó e João Grilo que me entendem). Tudo é muito intenso e existe uma avalanche de sentimentos invadindo a todo momento. É uma verdadeira montanha russa constante. Tem que ter estômago! 
No momento que passa a euforia inicial e você se percebe sem uma casa pra morar é desesperador. Não desejo esse sentimento a ninguém. Mas confesso que isso me fez mais humana, a sentir profundamente muito mais compaixão pelo meu próximo - pensei naquelas pessoas que nunca tiveram um lar aconchegante e chorei copiosamente. Muito mais por elas do que por mim. Quando você percebe que em muito pouco tempo não vai ter dinheiro pra viver (nem morar, nem comer) bate um desespero e você anda zilhões de milhas em busca de trabalho, faça sol ou faça chuva. Aprende a levar não e continuar de cabeça erguida.
Existem também aqueles momentos que a saudade aperta e quase sufoca, que se junta a milhões de outros estímulos externos e te coloca pra baixo. Aí meu amigo, você chora.
Mas mesmo diante de tantas coisas difíceis existem as flores pelo caminho: literalmente e metaforicamente. Dublin é uma cidade cheia de flores por todos os lados, das mais variadas espécies e cores. É um constante deleite para os olhos.
Existem também as grandes amizades que fazemos - as flores metafóricas. Você acaba construindo amigos verdadeiros que em pouco tempo se tornam tua família e estão do teu lado pro que der e vier. Você tem a quem abraçar quando o bicho pegar, tem com quem compartilhar as alegrias e tristezas, com quem fazer um almoço brasileiro num domingo que bater a saudade de casa e ter aquela conversa na mesa da cozinha, depois de um dia cansativo.
No intercambio nem tudo são flores, mas tudo é uma conquista, um aprendizado que se eterniza todos os dias para todo o sempre e que te leva pra mais perto de ti. É também a certeza que nós nunca estaremos desamparados pelo nosso Pai soberanamente justo e bom. É sístole e diástole. É desencontro e (re)encontro. É a transformação da lagarta em borboleta prestes a sair do casulo.

Dublin, 24 de setembro de 2014 (Quase um mês de Irlanda)

Dublin rechaça, mas abraça.


Nos primeiros dias que você passa nessa cidade cosmopolita é só alegria. Música para todos os lados, tour pelos pubs mais badalados, visita aos parques famosos etc. Você ainda é um turista. Até aí a idade é linda e maravilhosa. Até que o tempo vai passando e aquilo tudo que era novidade, supra sumo vai virando rotina. E é no dia a dia que a gente realmente passa a conhecer algo ou alguém. A beleza continua lá, mas outras coisas vão aparecendo. Existe aquela carie escondida no dente lá de trás que você passa um tempão sem perceber até que um dia tu olhe minuciosamente e a descubra.
O centro de dublin é a própria carie. Impressionei-me com a quantidade de lixo (e por vezes vômito) que vi nas runas do centro às 3 horas da manhã. Cheguei a pensar que estava na Avenida Dantas barreto no Recife. Ao contrário do que muitos pensam: nem tudo são flores. E sim, há flores em todo canto da cidade! Quando a gente chega nos lugares mais afastados, nossos olhos brilham.
Eu costumo Dublin esta sempre evocando sentimentos opostos: Ao mesmo tempo que encanta, desencanta. Ao mesmo tempo que faz sol, chove. Ao mesmo tempo que te abraça, te rechaça. 

Dublin, 24 de Setembro de 2014

Respeito


Eu choro por profundo respeito a mim mesma, por me dar o direito de deixar o sentimento ir e vir como uma onda no mar. Eu choro porque tenho saudade de casa e por sentir que aqui ainda não constitui um lar. Mas irei! Um dia me disseram que o lar não se constitui de paredes de concreto e um teto. Ele se faz pelo coração, naquele lugar (que nem precisa ser físico) o qual nos sentimos aconchegados, onde você sempre se sente abraçado. Eu choro por essa dor no peito, essa angustia que sufoca apenas por não ter um lugar fixo para ancorar. Agora sou cidadã do mundo e ainda passarei muito tempo a navegar. Então eu choro, para que meu pranto lave minha alma e para que por dentro eu não possa me afogar.

Dublin, Setembro de 2014.

Porto seguro (à Maria Betania)


Ainda me lembro quando ainda nem tinha o corpo todo formado, mas já habitava o teu ventre. Era um lugar aconchegante, quentinho como uma tarde de verão. Sentia tuas mãos nas paredes do meu quarto e parecia que estava à beira da lareira no inverno. Ouvia tua  voz e meu coração saltitava como uma gazela de tanta emoção. Aos poucos fui crescendo e meu quarto diminuindo, tanto que me levava a chutar aquelas paredes em busca de maior conforto.
Em teu ventre foi a primeira vez que senti ter um lar.
Mas, como nem tudo é permanente, um dia tive que sair para outros ares respirar. Lembro-me bem que foi um choque! Saí do meu cafofo para uma sala gelada, cheia de luz e objetos estranhos. Chorei desesperadamente em busca de algo que me faltava: o ar.
A segunda vez que me senti em casa foi quando deitei em teus braços e alimentei-me de teu seio.
Teus braços me aconchegavam como se eu estivesse deitada nas nuvens. Sentia novamente o calor e o aconchego do meu lar. Foi então que chegou o dia de ir pra outro espaço que era Aberto e lá encontrei outro cantinho para me aconchegar. 
Fui crescendo, desabrochando para a vida e construindo muitos outros afetos. E por mais que fosse enveredando pelo mundo, sempre chegava a hora de voltar e nos teus braços me aconchegar.
Parti para terras distantes...
Bateu uma sensação de solidão, como se tivesse num navio a vagar sem poder para o seu porto voltar. Era como se não existisse uma âncora, somente um barco a navegar na imensidão do mar. Rogo a Deus que tome conta do meu leme, até chegar o dia em que finalmente eu possa aportar. Sigo de peito aberto com a esperança de muitos portos desbravar. As tempestades estão chegando (vindo de fora e de dentro), mas eu hei de enfrentar e uma grande marinheira me tornar. Deus, Pai, é a tua luz que me guia. Por favor, não deixa eu me afogar.

Dublin, 17 de Setembro de 2014.

27 outubro 2014

Uma paixão à primeira vista


Quando a vi pela primeira vez meu coração disparou. Olhava fotos nas redes sociais quase todos os dias e só queria saber de conversar sobre ela com as minhas amigas. Me sentia como uma menina de catorze, quinze anos outra vez! A cada foto nova minhas mãos suavam, ficavam geladas, sentia uma frio na barriga, uma euforia sem tamanho.
Não podia ouvir seu nome que meus olhos brilhavam e eu suspirava. Até que um dia soube que iria conhecê-la pessoalmente... Foi como se meu mundo inteiro estremecesse e virasse de ponta a cabeça, mal podia acreditar em minha sorte! Contaria um ano até poder vê-la cara a cara e assim o fiz. Contei os dias ansiosamente. Me alimentava com a esperança desse encontro, e nos dias frios e tempestuosos era a minha luz no fim do túnel. Quando dava vontade de chutar o pau da barraca eu pensava nela com todas as minhas forças e meu coração se alegrava. O tempo foi passando tão rápido que eu nem percebi. Quando dei-me conta só faltava um dia (mais um de viagem) para o grande encontro. De repente senti uma calmaria, uma onda de tranquilidade que me acompanhou durante todo o longo trajeto... Foi quando finalmente saí da sala de embarque e a vi pela janela. O ceu estava nublado e a mudança de temperatura já era notável. Mas não havia frio que dominasse o calor que eu trazia por dentro. Assim que pegamos a estrada, ela sorriu para mim e meu coração se derreteu completamente. Minhas pernas fiaram bambas, meu coração era quase taquicardia e meu sorriso faria o mundo inteiro querer sorrir. Não demorou muito para que eu chegasse ao seu coração e me encantasse mais inda. Tudo que eu desejava era explorar cada parte de seu corpo e descobrir cada detalhe de sua história - sobre os encantos e desencantos que a vida te proporciona. 
No segundo dia ela surpreendeu-me com um sol imponente que me fez sentir em casa, em cada lugar havia uma trilha sonora que contava a sua história e já estava constituindo a minha também. Me sentia num filme a todo momento e nem imaginava que podia sentir-me assim outra vez. Aliás, nem trata-se de reviver algo. É completamente novo e inexplicável com a riqueza de detalhes que isso me traz. Eu me sentia renovada e meu coração era só felicidade. 
Irlanda meu amor, apaixonei-me por ti desde a primeira vez que te vi.

Musicalidade


Desde a primeira pisada nas ruas de Dublin senti o cheiro de musicalidade no ar.
A cidade apresenta-se com uma certa mistura de serenidade e agitação. A maioria das construções são antigas e contam suas histórias para milhares de residentes e turistas do mundo inteiro, todos os dias. As paredes e ruelas falam. Sussurram a trajetória daqueles que já se foram e dos que irão chegar. São muitas vozes e cores, cheiros e sabores. Entretanto, o que mais me chamou a atenção foi a sensação de ter uma trilha sonora onde quer que eu estivesse. A música está em todo lugar e faz você se apaixonar todos os dias por ondas sonoras vibrando diferentemente em seu aparelho auditivo. Quase consigo ouvir uma orquestra quando estou no centro do centro. Ainda mais: fecho meus olhos  delicadamente e apenas sinto  todas as vibrações que se  tonam uma só melodia. Seja rock, clássico, pop ou regional, toda música que aqui eu ouço me toca, faz minh'alma transbordar de regozijo. Essa trilha me faz sonhar, levitar a cada nota e a cada passo que a acompanha.
É liberdade plena! É manifestação e valorização que vai além de coisas que são muito importantes para as pessoas hoje em dia como o "ter". Eu não preciso possuir a música para aparentar algo que não sou frente o 'grande outro' social. Escuto a melodia, sinto-a em meu âmago, flutuo e me propago pelo ar junto com ela, até chegar o momento em que ela vai embora e eu me permito ser contagiada por outra melodia que encontrar pelo caminho. Ela não é apenas um objeto, um entretenimento. A música está viva e também conta a história de uma cidade, um povo, um sentimento... Ela nos conta muito mais do que as vezes somos capazes de perceber.
Senti a música em cada célula no meu corpo e agora meu coração canta de felicidade.
Ah, como é bom ter a trilha sonora do filme da vida.


Dublin, 8 de Setembro de 2014

05 setembro 2014

Azul esperança


Aqui é noite (6:45 pm) e o sol se mantém altivo queimando minha pele. O céu azul celeste, quase sem nuvens enche os meus olhos de esperança [...]

O pranto de Recife


Acordei e o céu era cinza. A água batia na janela com violência.  A cidade do sol estava tomada por uma brisa fria e chuva forte. Dia atípico tanto no clima como nos acontecimentos: Uma filha estava prestes a partir para longe.
Meu irmão olhara para a janela, depois para mim, e dissera: “Recife esta chorando com a tua partida”.
Não poderia ouvir nada mais poético.
Recife chovia, mas eu era toda sol. Carregava o calor e os dias ensolarados  de minha cidade natal para enfrentar os dias congelantes de minha nova casa.
A tranquilidade me assolava naquele momento de uma forma que nem imaginava. Nada de tempestade, Recife! Só calmaria. Roguei à Deus proteção antes de partir e assim estou sendo atendida. Nada mais forte e eficaz que a oração, meu amigos. Quem precisa de “Dramin” quando se tem uma boa prece?
Antes do primeiro embarque tirei várias fotos com os meus afetos. Era toda sorrisos e abraços... Achei até que desabaria quando passasse pela porta de vidro, mas só sentia uma calmaria inexplicável: Como se o jogar no vazio fosse algo familiar, e nem era! Abracei a todos como se não houvesse amanhã e parti. Nada de lágrimas, pois repetirei quantas vezes forem necessárias que “aqueles que verdadeiramente se amam, nunca se separam”. Eles vieram dentro de mim como os dias ensolarados do meu Recife. Faz frio na “Cidade Maravilhosa”, mas o calor eu eu trouxe por dentro é suficiente para aquecer esse aeroporto inteiro.


Rio de janeiro, 28 de Agosto de 2014.

01 setembro 2014

Nasci na barriga de uma índia


Para quem não estava no evento "Tchau Brasil, Hello Irlanda", ou seja, minha despedida, aí está o recadinho do coração que escrevi pouco antes de partir para a Ilha Esmeralda. E para quem estava lá, vale a pena ler de novo.

Nasci na barriga de uma índia.
Que habitava terra fértil e boa, cheia de altos coqueirais, de beleza soberba estendal. Andava pelada (de calcinha dentro de casa) e pés descalços num solo sem concreto. Sempre fui a índia mais preguiçosa da oca: Só queria deitar na rede e aproveitar a vida. Caça e pesca? Só na seção de congelados do Hiper Bompreço e olhe lá. Preparo de comida para a tribo? Só aprendi um dia desses, e por pura necessidade. Me interessava muito mais por um objeto cheio de folhas brancas ou amareladas que continha uns símbolos estranhos impressos nelas. Gostava de sentir: tocar e cheirar aquilo que mais tarde descobri ser chamado de livro. Sentia a palavra em alto relevo e me encantava com sua vibração. Sentia-a assim como sentia a natureza, o vento em meus cabelos soltos, o barulho dos pássaros entre as árvores aos primeiros raios de sol. Aquele objeto era luz, emitia para mim a aurora do dia onde quer que eu estivesse. Era lá que eu caçava, pescava, cozinhava, desbravava as mais densas matas. Era índia exploradora. Mas além de livros, eu aprendi coma chefe de minha tribo outros valores: Rezar, amar e comer. Rezar para agradecer pela nossa maior dádiva que é a vida. Amar porque é a única fatalidade a qual estamos destinados e realmente precisamos para sermos felizes e comer porque a gente só se lucra do que come. E assim fui aprendendo a valorizar as coisas simples como sorriso e abraço apertado. A comer cuscuz todo dia de manhã, macaxeira ou inhame com charque à noite, galinha guisada com feijão e arroz no almoço no almoço. Se tinha uma coisa que a minha terra produzia era comida boa!
A cultura que trazia era de guerreiros: caboclinhos com suas primas e danças exuberantes, caboclo de lança com seu estandarte multicolorido, o bumba meu boi com toda a sua destreza, Lampião e Maria Bonita dançando um forró rala bucho, os bonecos de Olinda descendo as ladeiras no meio da multidão, e o frevioca rasgando o passo com a tesoura nas ruas do velho Recife.
Eu admirava o frevo muito mais do que todos os outros ritmos por um pequeno- grande motivo:
Nasci na barriga do frevo também.
Era índia frevioca que mostrava sua luta diária pela dança (que era pesada) com um sorriso largo no rosto. Para mim, ela era a personificação do frevo. Ela era festa, mas também serenidade: Só discutia a relação na beira da praia, que era pra ter tranquilidade. Sua única ambição era um violão, era um tal de: “Hay dias que no se lo que me passa, eu abro meu Neruda e apago o sol, misturo poesia com cachaça e acabo discutindo futebol/mas não tem nada não tenho meu violão, mas não tem nada não tenho meu violão”.
De um cabra arretado de uma terra “vizinha”, chamado Vinicius de Moraes. E de novo desemboquei na literatura: Minhas primeiras poesias foram dele e me tocaram a alma. Depois de um tempo me tornei pretensiosa e comecei a escrever as minhas próprias: Sobre praia, lua e amor. Sempre evocava elementos de minha terra, porque já tinha saudade mesmo morando nela, e lá no fundo sabia que um dia iria partir, seja para o mundo espiritual ou para uma terra longínqua. E eu vou meu Pernambuco, mas levo de ti as batidas do maracatu, os blocos carnavalescos, os passos do frevo, os versos de cordel, a mistura do manguebeat, a multiculturalidade, as ruas do recife Antigo, a visão do Rio Capibaribe ao por do sol, a comida mais gostosa do mundo, o olhar nos olhos e chamar de tu/tabacudo/e dizer ”visse” no final das frases. Levo de ti afetos e laços de amor inquebráveis. Levo de ti o sol sempre imponente e o mar de águas mornas. Levo de ti a guerreira que tu pariste e permitiste viver em teu solo por 21 anos. Levo de ti a canção: Salve ó terra dos altos coqueiros, de beleza soberba estendal, nova Roma de bravos guerreiros, Pernambuco imortal, imortal!

E fica tranquilo meu Pernambuco, que eu volto. Porque sou índia da civilização, mas não abandono minha rede não.

26 agosto 2014

Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.

Faltam apenas três dias para o embarque, mas a viagem mesmo começou há muitos anos atrás proveniente de uma pequena faísca: a vontade de conhecer a Inglaterra, mais especificamente Londres. Era o sonho de uma menina de 14 anos que, diferente de muitas garotas de sua idade as quais gostariam de uma viagem à Disney como presente de quinze anos, ansiava por conhecer a terra da Rainha e de uma das mais brilhantes escritoras (em minha opinião) já existentes - J. K. Rowling (Para quem não conhece, a autora de Harry Potter). Ela queria se aventurar pelo mundo da magia, viajar no expresso de Hogwarts e conhecer cada cantinho dos terrenos da escola de magia e bruxaria. Sua mãe prometera juntar dinheiro para lhe proporcionar esse grande presente, mas a realidade em que elas viviam a impediu de concretizar o sonho aos exatos quinze anos de idade. O tempo foi passando, a vontade aumentando, a fé e esperança se fizeram suas maiores aliadas. Nos momentos mais difíceis ela se colocava a pensar e viajava por aquelas terras longínquas somente a imaginar. Tinha certeza que um dia lá iria chegar.
Alguns anos se passaram e ela foi realizando outros sonhos, como ingressar na Universidade Federal de Pernambuco para cursar Psicologia. Foi amadurecendo, se conhecendo e aprendendo. Até que um dia encontrou pessoas que lhe foram fornecendo direcionamentos acerca desse grande sonho. 
Sonho que como tudo na vida também foi se transformando. 
A essa altura do campeonato algumas pessoas podem estar se perguntando: mas porque Irlanda, se o sonho era Londres? Como diria Chicó: "Não sei, só sei que foi assim".
Brincadeira.
Foi assim ó: Conheci (através de uma ex professora de inglês) uma menina que estava morando em Dublin - Ireland. O intuito das conversas iniciais era somente para saber como de fato funcionava um intercâmbio, dicas de viagem, custo de vida etc. Comecei a pesquisar sobre a irlanda e aos pouquinhos comecei a me apaixonar pela Ilha Esmeralda. Dentro de algum tempo já não tinha mais volta, foi avassalador. Por ironia do destino ou não, após algumas cotações bem "salgadas" em relação aos dois lugares surgiu uma promoção na empresa de intercâmbio indicada por esse contato da Irlanda. Fiquei louca com o custo-benefício e lancei a ideia para a minha mãe, ou mais conhecida como "a mulher que me fornece dinheiro para tudo". Não demorou muito e ela comprou a ideia, mesmo sem ter o dinheiro. Ela me disse: "tenha fé que a gente vai dar um jeito". A agonia começou daí, visto que a promoção só duraria alguns dias  e a gente não tinha dinheiro nem para a entrada direito. Foi então que um anjo, chamado Maria Eugenia,  intercedeu nessa jornada e com muita confiança nos emprestou a quantia que precisávamos para o primeiro passo. 
Contrato feito. 
A sorte estava lançada!

Diante dessa reviravolta eu me pus a pensar em algo que minha professora de ciências da 2ª série me disse com veemência, uma frase a qual teria que memorizar e nunca mais esquecer, visto que precisaria dela para toda a minha vida. Era o célebre dizer de Antoine Lavoisier: "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Eu como boa menina que sempre fui, aprendi. E hoje, 15 anos depois, eu vejo uma grande transformação se concretizar. Obrigada, Tia Nayara!

Enveredar?


De acordo com o dicionário online de português, Enveredar tem o seguinte significado:

v.i. Seguir por vereda.
Tomar rumo, seguir certo caminho; encaminhar-se.
Seguir determinado destino: enveredou pelo caminho do bem.

E caminho é algo que está impregnado em cada cantinho desse blog. 
Esse espaço foi criado numa tentativa de captar e armazenar momentos de minha viagem pelo mundo a fora, os quais minha memória limitada não reterá com a riqueza de detalhes que desejo e preciso. Quero trazer um olhar diferente desse mundo, da minha forma de viver e lidar com ele. Um olhar mais sensível, cheio de contrastes e poesia. É a vontade de uma leitora voraz, quase psicóloga e escritora (nas horas vagas) de capturar o estar no mundo através das palavras. 

Através de um vocábulo simples enveredarei.

Primeira parada: Dublin - Ireland.


Sejam bem vindos!