05 setembro 2014

Azul esperança


Aqui é noite (6:45 pm) e o sol se mantém altivo queimando minha pele. O céu azul celeste, quase sem nuvens enche os meus olhos de esperança [...]

O pranto de Recife


Acordei e o céu era cinza. A água batia na janela com violência.  A cidade do sol estava tomada por uma brisa fria e chuva forte. Dia atípico tanto no clima como nos acontecimentos: Uma filha estava prestes a partir para longe.
Meu irmão olhara para a janela, depois para mim, e dissera: “Recife esta chorando com a tua partida”.
Não poderia ouvir nada mais poético.
Recife chovia, mas eu era toda sol. Carregava o calor e os dias ensolarados  de minha cidade natal para enfrentar os dias congelantes de minha nova casa.
A tranquilidade me assolava naquele momento de uma forma que nem imaginava. Nada de tempestade, Recife! Só calmaria. Roguei à Deus proteção antes de partir e assim estou sendo atendida. Nada mais forte e eficaz que a oração, meu amigos. Quem precisa de “Dramin” quando se tem uma boa prece?
Antes do primeiro embarque tirei várias fotos com os meus afetos. Era toda sorrisos e abraços... Achei até que desabaria quando passasse pela porta de vidro, mas só sentia uma calmaria inexplicável: Como se o jogar no vazio fosse algo familiar, e nem era! Abracei a todos como se não houvesse amanhã e parti. Nada de lágrimas, pois repetirei quantas vezes forem necessárias que “aqueles que verdadeiramente se amam, nunca se separam”. Eles vieram dentro de mim como os dias ensolarados do meu Recife. Faz frio na “Cidade Maravilhosa”, mas o calor eu eu trouxe por dentro é suficiente para aquecer esse aeroporto inteiro.


Rio de janeiro, 28 de Agosto de 2014.

01 setembro 2014

Nasci na barriga de uma índia


Para quem não estava no evento "Tchau Brasil, Hello Irlanda", ou seja, minha despedida, aí está o recadinho do coração que escrevi pouco antes de partir para a Ilha Esmeralda. E para quem estava lá, vale a pena ler de novo.

Nasci na barriga de uma índia.
Que habitava terra fértil e boa, cheia de altos coqueirais, de beleza soberba estendal. Andava pelada (de calcinha dentro de casa) e pés descalços num solo sem concreto. Sempre fui a índia mais preguiçosa da oca: Só queria deitar na rede e aproveitar a vida. Caça e pesca? Só na seção de congelados do Hiper Bompreço e olhe lá. Preparo de comida para a tribo? Só aprendi um dia desses, e por pura necessidade. Me interessava muito mais por um objeto cheio de folhas brancas ou amareladas que continha uns símbolos estranhos impressos nelas. Gostava de sentir: tocar e cheirar aquilo que mais tarde descobri ser chamado de livro. Sentia a palavra em alto relevo e me encantava com sua vibração. Sentia-a assim como sentia a natureza, o vento em meus cabelos soltos, o barulho dos pássaros entre as árvores aos primeiros raios de sol. Aquele objeto era luz, emitia para mim a aurora do dia onde quer que eu estivesse. Era lá que eu caçava, pescava, cozinhava, desbravava as mais densas matas. Era índia exploradora. Mas além de livros, eu aprendi coma chefe de minha tribo outros valores: Rezar, amar e comer. Rezar para agradecer pela nossa maior dádiva que é a vida. Amar porque é a única fatalidade a qual estamos destinados e realmente precisamos para sermos felizes e comer porque a gente só se lucra do que come. E assim fui aprendendo a valorizar as coisas simples como sorriso e abraço apertado. A comer cuscuz todo dia de manhã, macaxeira ou inhame com charque à noite, galinha guisada com feijão e arroz no almoço no almoço. Se tinha uma coisa que a minha terra produzia era comida boa!
A cultura que trazia era de guerreiros: caboclinhos com suas primas e danças exuberantes, caboclo de lança com seu estandarte multicolorido, o bumba meu boi com toda a sua destreza, Lampião e Maria Bonita dançando um forró rala bucho, os bonecos de Olinda descendo as ladeiras no meio da multidão, e o frevioca rasgando o passo com a tesoura nas ruas do velho Recife.
Eu admirava o frevo muito mais do que todos os outros ritmos por um pequeno- grande motivo:
Nasci na barriga do frevo também.
Era índia frevioca que mostrava sua luta diária pela dança (que era pesada) com um sorriso largo no rosto. Para mim, ela era a personificação do frevo. Ela era festa, mas também serenidade: Só discutia a relação na beira da praia, que era pra ter tranquilidade. Sua única ambição era um violão, era um tal de: “Hay dias que no se lo que me passa, eu abro meu Neruda e apago o sol, misturo poesia com cachaça e acabo discutindo futebol/mas não tem nada não tenho meu violão, mas não tem nada não tenho meu violão”.
De um cabra arretado de uma terra “vizinha”, chamado Vinicius de Moraes. E de novo desemboquei na literatura: Minhas primeiras poesias foram dele e me tocaram a alma. Depois de um tempo me tornei pretensiosa e comecei a escrever as minhas próprias: Sobre praia, lua e amor. Sempre evocava elementos de minha terra, porque já tinha saudade mesmo morando nela, e lá no fundo sabia que um dia iria partir, seja para o mundo espiritual ou para uma terra longínqua. E eu vou meu Pernambuco, mas levo de ti as batidas do maracatu, os blocos carnavalescos, os passos do frevo, os versos de cordel, a mistura do manguebeat, a multiculturalidade, as ruas do recife Antigo, a visão do Rio Capibaribe ao por do sol, a comida mais gostosa do mundo, o olhar nos olhos e chamar de tu/tabacudo/e dizer ”visse” no final das frases. Levo de ti afetos e laços de amor inquebráveis. Levo de ti o sol sempre imponente e o mar de águas mornas. Levo de ti a guerreira que tu pariste e permitiste viver em teu solo por 21 anos. Levo de ti a canção: Salve ó terra dos altos coqueiros, de beleza soberba estendal, nova Roma de bravos guerreiros, Pernambuco imortal, imortal!

E fica tranquilo meu Pernambuco, que eu volto. Porque sou índia da civilização, mas não abandono minha rede não.