14 novembro 2014

Das flores metafóricas: Nathália Prado



Sobre essa eu vou começar com poesia, porque é a poesia que a guia. Aliás, poesia que nos guia, poesia que te guia, @poesiaquemeguia.

Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra [...]. Não chegaram a usar palavras como "especial", "diferente" ou qualquer coisa assim. Apesar de, sem efusões, terem se reconhecido no primeiro segundo do primeiro minuto [...] (Aqueles dois, Caio Fernando Abreu)”.

No primeiro dia que me deparei com essa flor pela minha vereda foi reconhecimento instantâneo. Não precisou de muito tempo para que soubéssemos que seriamos amigas para toda a vida. A cada palavra falada no sofá do apartamento 68 fez com que a gente fosse afinando de acordo com os nossos valores e ideais, e a partir daí nem precisava falar mais nada.
A poesia e a arte também nos fizeram mais amigas, era uma linguagem diferente que pouquíssimos entendiam.
Ela é um espírito em busca de liberdade, cheio de sensibilidade, carinho e dedicação a si e aos outros. Nunca se importou em dividir nada: seus sorrisos, abraços, gestos de gentileza e de carinho eram gratuitos e me fizeram sentir acolhida.
Eu a acolhi e abracei também.
Ela, desde aquele primeiro dia começou a fazer parte da minha família universal. É a irmã que o universo me presenteou. E agora também faz parte da minha poesia, do meu cenário que é reinventado e reconstruído todo dia.
Vai Nathália, abre tuas asas e voa. Continua a sobrevoar o mundo e espalhar coisas bonitas. Enche teu peito de ar e respira, mas vai com calma também. Respeita o teu tempo que é chegada a tua hora e é devagar que se chega lá. Tem fé em ti e no teu dom de ser feliz (Aponta pra fé e rema!). Transporta essas montanhas (criadas) com paciência e mansuetude. Vai menina, continua com essa força que te faz tão grande e essa doçura que te faz tão humana. Um dia de cada vez e chegamos lá. Eu tô do teu lado pra caso falte fôlego. Eu tô voando contigo e vamos conquistar o mundo! Tens aqui abraço amigo pra sorrir e chorar também (faz parte da jornada). Só não deixa a tua luz se apagar pela escuridão desse inverno que começa a nos envolver ou pelas dificuldades que estão aqui para nos fazerem melhores. Desafoga esse nó na garganta e no peito, olha pro céu e agradece a chuva que vem nos abençoar com boas novas. Tu significa muito pra mim!


Voa passarinho, que é chegada a tua hora de ser.

Foto: Camila Cicolo

13 novembro 2014

Dois meses de Irlanda


Parece que foi ontem que eu sai de casa com as malas cheias de roupas e expectativas. Uma mistura de medo do desconhecido e ao mesmo tempo calmaria. Como já repeti em postagens anteriores, tudo era lindo e maravilhoso nas primeiras semanas! Me apaixonei em cada esquina pela cidade. Depois os olhos foram ficando cansados e começaram a surgir as imperfeições provenientes do convívio diário. As dificuldades de encontrar uma casa e emprego batem à porta e você se sente só, perdido num mar de gente.
Minha primeira decepção foi ter que falar português quinhentas mil horas por dia, quando na verdade eu paguei caro para não ouvir minha língua nativa. Visto que se eu quisesse ficar nessa situação de falar inglês só na aula eu teria permanecido estudando no SENAC, cujos professores tem mais didática dos que os que eu tive aqui.
Mas eu não desisti. Mesmo convivendo com muitos brasileiros, cada oportunidade que eu tinha de praticar inglês com nativos era preciosa e eu aproveitava cada milésimo de segundo. Me jogava de cabeça sem nem pensar duas vezes.
Sim, quem faz o intercambio é você. mesmo diante de um grande desestímulo eu não desisti e agarrei com unhas e dentes todas as chances que me apareceram.
Minha primeira casa depois da acomodação foi algo que não estava no script: onze pessoas e um banheiro.  
Como vocês ja devem imaginar, viver com dez cabeças que pensam diferente não é nada fácil. São criações e estilos de vida completamente distintos. Um verdadeiro teste de paciência, resiliência, indulgência e por aí vai. Dividia o quarto com uma menina super gente boa, mas era bastante claustrofóbico: não tinha janela e nenhum espaço pra circulação no lugar. Era tão pequeno que não tinha lá dentro. Mas como tudo depende de como você enxerga a situação, o que eu tirei de bom de lá foram as amizades! E por mais que não fosse o ideal, eu tinha uma cama para dormir depois de um dia cansativo. E isso meus amigos, é bem difícil por aqui.
Não cheguei nem a ficar um mês por lá, porque graças a Deus + muito esforço e persistência consegui um emprego de Aupair live in. Para aqueles que não sabem o que danado é isso eu vou resumir: babá que mora na casa dos gringos. Nossa! Fiquei tão feliz que até queria subir em cima de uma mesa e dançar a macarena. Queria correr e gritar pelas ruas de tanta emoção! Foi uma sensação de alívio sem tamanho. A partir desse ponto tudo mudaria para melhor. Poderia dormir e acordar escutando/falando em inglês. Essa era a melhor parte: ir no supermercado e não ouvir ninguém falando em português.
Já faz quase um mês que estou nesse trabalho (eu prometo que em breve farei uma postagem só sobre ele) e já sinto que evoluí bastante. Depois das turbulências iniciais, finalmente veio a calmaria. Como é bom poder boiar nessas águas brandas e pacíficas, sem pressões, sem desespero. Só você, o céu e o mar.
Se tem uma coisa que a gente aprende aqui é a valorizar as pequenas coisas, momentos e sensações. Você aprende a valorizar o trabalho (seja ele qual for), a ter um quarto só pra ti (aquele cantinho particular pra chamar de lar), a tomar um chocolate quente num dia congelante, a ter uma bicicleta para ir até a escola. As coisas mais simples.
Você passa a enxergar a vida e tudo à sua volta de outra forma. Cada passo é uma grande conquista, é um momento de renovação. 
Eu sou a fênix renascendo das cinzas.
Depois de pegar fogo e se reduzir a pó, você renasce. Depois do sofrimento há sempre uma nova chance de ser melhor. E o mais importante: Tudo é motivo de agradecimento.
Obrigada meu Deus, por dois meses de muitas lutas e vitórias, por essa grande oportunidade de autoconhecimento e crescimento. A fé transporta sim muitas montanhas. E quando falo em fé não é no sentido estritamente religioso. É de acreditar veemente em algo. É preciso termos fé, meu amigos, em nós mesmos. É preciso transportarmos as montanhas que existem dentro de nós e que nos impedem de sair do lugar.
Minha montanha se transportou. 
Obrigada Irlanda, por dois meses de transformações.

Dublin, 11 de novembro de 2014.


11 novembro 2014

Carta a minha estrela: Larissa


Minha estrelinha,

Sinto tanto a tua falta que chega a existir um espaço oco dentro de mim. Tudo aqui me lembra você: o frio, as pessoas bem vestidas, os brechós, os pubs, os shows incríveis, a quantidade excessiva de batata frita, a musicalidade... Você esta em cada esquina que eu dobro e posso até ouvir tua risada de maravilhamento ou sarcasmo.
Dia desses um rapaz veio falar comigo e adivinha? Ele adora várias bandas que tu gosta e sabendo que eu sou brasileira me perguntou se eu conhecia Angra. Eu ri alto e disse que conhecia a banda porque a minha melhor amiga gostava. Foi engraçado! Por fim, me chamou para um drink e eu nem respondi - não era ruivo, nem fazia o meu tipo. Dei uma de doida mesmo. Provavelmente você quer me bater agora, eu sei. Tô sentindo teu olhar de fuzilamento sob mim, e isso me faz querer rir.
Sinto falta da tua risada também, principalmente de quando tu ri alto. Queria que tu pudesse enxergar pelos meus olhos, tu iria gostar da vida por aqui.
Faz tempo que a gente não se fala e eu nem sei porque. Provavelmente deve estar com a vida bem corrida aí...
Gostaria de te ver de vez em quando.
Tenho que te dizer: tu não sabe o quanto eu tenho crescido! Ficarias orgulhosa de mim.
Espero que tu estejas bem, estrelinha. E não esquece que eu estou sempre contigo!
Te amo muito,

"However far away, I will always love you
 However long I stay, I will always love you"

Carol

Dublin, 11 de novembro de 2014.

Na casa de vovó Beta


Agora que ocupo o papel de cuidadora, e sei o quão exaustiva é essa rotina, me ponho a pensar e agradecer a ti e a Deus por te ter em minha vida.
O que seria de mim, do meu irmão e dos meus primos sem a senhora?
Não haveria cuzcuz com leite de manhã.
Não haveria tomar banho de chuva cantando no quintal.
Não haveria balanco no pé de jambo (nem a própria árvore haveria).
Não haveria Benje, não haveria um almoço delicioso todos os dias.
Não haveria quem nos esperasse na volta da escola.
Não haveria a bacia amarela de pão assado + leite maltado enquanto  assistíamos desenho animado à tarde.
Não haveria chá de bordo quando a barriga doesse, nem 'lambedô' quando estivéssemos gripados...
Não haveria missa na sexta feira, nem gargalhadas sem motivo algum.
Não haveria cadeira de balanço, muito menos uma casa enorme onde pudéssemos correr e brincar a vontade.
Não haveria tanque no quintal da casa para lavarmos, nem haveria balde para que tomássemos banho de cuia.
Não haveria a Rua Francisco de Abreu onde pudéssemos jogar bola, esconde-esconde, pular corda e fazer amigos.
Não haveria a "Praça do Mariano" para que prolongássemos a brincadeira.
Não haveria Roberto Carlos, Padre Marcelo Rossi e Padre Zezinho.
Não haveria dança com César na cozinha fazendo com que desses gargalhadas.
Não haveria caldeirão de sopa de aproveitamento, nem inhame, nem macaxeira.
Não haveria infância tão feliz, nem esse amor do tamanho do infinto que as avós tem para com os seus netinhos.
Se não fosse você, vovó, eu realmente não sei o que seria de nós. Mas graças a bondade de Deus nós tivemos tudo isso. Graças a senhora! Muito obrigada por trabalhar tanto para cuidar de todos nós com tanto amor e carinho, por estar sempre de braços abertos, por brincar com a gente, por nos alimentar tão bem e contribuir imensamente  para que a nossa infância fosse a melhor de todos os tempos. Eu só cheguei até onde estou e sou quem eu sou por causa de ti também. Tenho recebido tuas preces e elas me fortalecem muito.
Tu és a véia mais cheirosa e linda do mundo inteiro! Te amo do tamanho do infinito!
Da sua neta,
Carol.

Dublin, 7 de novembro de 2014.

07 novembro 2014

Carta a um grande guerreiro: Victor

Meu irmão,
Nesse momento te preparas para uma grande batalha pela qual já tive que passar um dia. Tu me acompanhaste e sabes o quanto foi difícil todo o processo e do quanto precisamos ter forca e fé no Pai maior que nunca nos desampara.
Eu gostaria de te dizer que independente da distancia física, eu estou aí ao teu lado.
Tu vens de família de guerreiros que não fogem à luta e acreditam na vitória. Querer é poder e pensamento é energia viva. Então, põe teu pensamento e sentimento na certeza da vitória e vai com tudo. Dá o teu melhor e mostra a que tu vieste. Tu tens garra, forca de vontade e trabalhaste para que tudo isso desse certo. Acompanhei de perto todo o processo e sei que tu lutaste muito, ainda mais com tantos questionamentos internos. Já é vencedor! Eu acredito em você e no seu potencial.
Veste a tua melhor roupa de guerreiro e vai à luta! E se não der nessa batalha, muitas outras virão. É preciso ter paciência e respeito consigo mesmo também. Muitas vezes vencer não significa ganhar a batalha e sim reconhecer as falhas e aprender com elas. O que importa mesmo é a trajetória. Então vá, se jogue! Mergulhe de cabeça e faça o melhor que você puder como em tudo na sua vida. Tenha fé em Deus e em si mesmo. Acredite em você.
Tu és luz!
Tu és partícula divina!
Tu vais conseguir!

Vai em frente grande guerreiro e que brilhe a vossa luz!

Ps.: Envie-me uma mecha do seu cabelo raspado.
 Te amo!


Dublin, 7 de novembro de 2014

02 novembro 2014

Bruna e o mar


A menina se posicionava em frente `a imensidão azul acinzentada e sorria, serena. 
Se sentia um pinguinho naquele oceano que já fazia parte dela e para o qual já havia se confessado tantas vezes diante de lagrimas.
Se perdera em um outro mar, verde esmeralda, para se encontrar pela primeira vez. Dera-se conta do barulho caótico que habitava dentro de si, sozinha.
Se fez escuro e tempestade. E depois de se olhar nua e crua, reconhecendo sua pequenez diante daquele gigante, ela cresceu. 
A água gélida curou suas dores e chagas. A correnteza levou-a para junto de si, e assim desenvolveu um profundo amor e respeito por ela mesma.
O mar foi seu melhor amigo por muito tempo, talvez o único. Bastava uma troca de olhares e o entendimento era instantâneo. Sua voz doce enebriava os ouvidos dela e seu cheiro a envolvia num abraco apertado que aconchegava. 
Bruna amava o mar.
Com o mar Bruna aprendeu a se amar.

Dublin, 02 de Novembro de 2014.