14 dezembro 2014

Hippetys

Foto: Nathália Prado

Hoje o coração apertou, pois é Domingo. 
O gosto amargo da falta do abraço parental é algo que assola a vida do intercambista. É como se faltasse algo nesse dia que sempre foi tão vazio.
Domingo é dia de recuperação de uma semana louca, corrida. É dia de aconchego no ninho, de respirar fundo e esperar pela nova semana que esta a chegar.
Eu tava com um nó na garganta que não sabia explicar. Foi então que paramos em um café: singelo, arrumadinho, quente e aconchegante: Uma decoração magnificamente simples regada a musica boa e uma rosa no meio de cada mesa. Um deleite para os olhos.
O café latte com marshmallow e o chocolate quente nos beberam inteiras enquanto conversávamos sobre a nossa casa, os costumes e particularidades de nossas famílias: gestos, fala, pensamento, risadas e tudo que lhes é de mais íntimo. Depois o assunto era a comida - que delícia! Quase pude sentir o gosto do queijo coalho na boca. Meu coração se alegrava e desafogava ao falar da minha vozinha, assim como de ouvir falar sobre os avós da minha grande amiga. Fizemos uma viagem pela capital e interior de Pernambuco regada a muitas gargalhadas e brilho nos olhos. Expectativas, sonhos, vontades e lembranças estavam contidos no chocolate e no café. O coração foi afrouxando devagarzinho a cada palavra compartilhada. Me senti verdadeiramente em casa (quase sentei na varanda e vi as estrelas). Nathália foi na minha casa e eu fui na dela e assim sentimos o aconchego de nossas famílias num domingo que seria de frio e solidão.
E mais uma vez a palavra do dia é gratidão: Por estar viva e por ter a oportunidade de fazer amigos assim, que te fazem sentir mais perto de casa e te ajudam a desatar os nós na garganta e no coração. Minha passagem na Irlanda não seria a mesma sem a tua amizade (Maria) Nathália. Mal posso esperar para conhecer a tua casa, ser a tua agente literária e compartilhar mais sonhos contigo.

09 dezembro 2014

Sobre amor


Amor é quando tu estás à km de distância e o outro sente o que tu ta sentindo somente por um laço invisível chamado sintonia.
É quando tu precisa desesperadamente de um abraço e ele vem somente com uma prece.
É quando o sol nasce e se põe.
Amor é aquilo que todo ser vivo tem de mais precioso e é inerente a todos.
Fomos feitos do amor para o amor!
É olhar as folhas secas de outono caindo, é céu azul, é a natureza em sua mais bela forma.
Amor envolve respeito por si e pelo outro.
É ser paciente, caridoso e gentil com aqueles que nos tratam com aspereza. 
O amor afaga, aquece e nos remove da condição de ignorância. 
É o maior nível de sabedoria que existe.
O amor transporta montanhas, é  fé nos desesperados e o ar dos naufragados.
É verdade e luz Divina.
Amor é silêncio e barulho também.
É paisagem e música.
Amor faz a gente se transportar até entre galáxias.
Está expresso nos pequenos e grandes gestos.
Só o amor salva!
Num dia de extremo desespero, angustia e solidão eu fiz uma prece com todas as forças que me restavam e senti a maior expressão de amor que já existiu.
O amor me salvou.

03 dezembro 2014

Três meses de Irlanda


Em conversa jogada fora com os amigos na mesa da cozinha percebemos que parece se passaram 3 anos. Os rostos carregam traços diferentes de quando aqui pisamos pela primeira vez. Uma especie de serenidade vai transparecendo nos nossos olhos, na fala, no gesto. Vamos percebendo que já nos despojamos de tantas cargas pelo caminho e até adquirimos outras de cor e texturas  completamente diferentes. Reconhecemos também partes de nós que sempre estiveram ali, mas que nunca tivemos a oportunidade de olhar com um certo estranhamento. Nos aceitamos mais e nos sentimos mais confortados de sermos. Sem agonia, sem desespero. Aquele incômodo inicial, a pedrinha no sapato, vai encontrando seu espaço e passa a não incomodar mais. Faz parte de nós também. A saudade dos afetos bate forte na porta, mas aprendemos a deixar ela entrar e tomar um chá na sala de estar. Aprendemos a sentir essa falta do domingo em família (seja ela de laço consanguíneo ou não) de uma forma gostosa, com sorriso no rosto e calor no coração. Lembrança funciona mais que aquecedor no inverno. As preocupações continuam existindo e as reclamações são culturais, mas depois a gente para e agradece por elas também. A estabilidade traz serenidade, mas também desconforto. Tu passa a conviver muito tempo com o teu silêncio e as vezes ele te incomoda. O caos que sempre existiu dentro de ti vê oportunidade de emergir, olhar na tua cara e gritar "eu tô aqui!". Tu ficas pasmo diante do que tu vês e escutas, dá até vontade de correr. Mas não dá. Tu estás de frente contigo mesmo e o jeito é ouvir essa camarada que há tanto tempo pedia voz e era sufocada pela tua incessante correria. Agora é hora de deixar essa mulher falar, entender o que ela tanto queria te dizer. Ainda não tenho total clareza do ruído que habita o meu silêncio, mas aos poucos as notas musicas vão começando a fazer sentido.