03 agosto 2015

A viagem não terminou

Certa feita uma colega de Dublin comentara em minha página no Facebook que acreditava que a viagem não acabaria por ali. Concordo plenamente! Quando a gente parte pro mundo é uma viagem sem volta, tudo muda. Tu nunca mais  terás apenas uma nacionalidade, ou um só prato típico ou favorito, ou um só lugar para chamar de lar. Não existe mais âncora, só asas.
Após quase um ano de Irlanda voltei ao Brasil e o nada surpreendente processo de estranhamento já começara enquanto esperava o voo da conexão para finalmente chegar em Recife - PE. Sentia uma brusca mudança de temperatura, pois meu corpinho acostumado a dez graus Celsius estava a sentir a prévia do que seria o calor infernal de "Hellcife". Os preços eram exorbitantes: Gargalhei alto quando avistei um anuncio um Capuccino + UM pão de queijo pequeno por doze reais e noventa centavos. Fiquei estarrecida! Mais adiante na fila de espera para o embarque, notei que as pessoas não conseguiam se organizar em duas filas (preferencial e comum), por preguiça de ler uma placa ou qualquer outra dificuldade que eu desconheço. Para a minha surpresa todos estavam na preferencial e só eu na fila normal, mesmo diante das duas placas instruindo-nos quanto ao que fazer. Além disso, também não existia moderação no volume de voz: As pessoas falavam tão alto que o saguão inteiro se ouvia. Já no avião, uma moça na minha fileira sentou-se na poltrona do corredor, a qual não lhe pertencia, e quando o rapaz destinado àquele assento chegou a mesma simplesmente lhe disse que para o bem geral da nação ficaria ali por estar gripada. HA! Vi a consternação no rosto do homem que não queria sentar na janela e ofereci-lhe meu lugar. Ele aceitou, mas alguns minutos depois deslocou-se para uma poltrona vaga do outro lado do corredor. 
Estranhei.
E não se trata de "frescura", se trata de fazer o que é correto, de uma falta de bom senso. Senti-me de outro planeta, onde as pessoas tem um tipo de educação diferente, falam apenas para a pessoa a qual se destina a mensagem ouvir, respeitam a indicação de uma fila, placa ou assento. Pela primeira vez no Brasil me senti estrangeira.
Me tornei "gringa".

Julho/2015

04 julho 2015

See you, Ireland!


Das coisas mais importantes e bonitas que Dublin me ensinou foi a amar, mas não no sentido que muitos pensam por ai (nada de posse, carne ou outra coisa relacionada a paixão). Amor sublime, sem barreiras, universal. Aquele que não precisa da presença física, benevolente, paciente, resiliente... O amor que liberta. E foi aí que entendi: "Only love will set you free" (Só o amor vos libertará). Aprendi do jeito fácil - com aqueles que foram afetos rapidamente-, e do jeito difícil - com aqueles que me exploraram, magoaram. Mas não teve escapatória, o amor tava ali. Difícil vivê-lo quando estamos no meio de pessoas hostis e ai que chega a grande prova: reduz teu orgulho, dobra tua paciência, desenvolve tua indulgencia, força na resiliência e dá o teu exemplo de amor. Ama o teu próximo como a ti mesmo! 
E é com satisfação que eu posso dizer: Eu amei.
Já amar os amigos foi "Piece of cake". Encontrei a maioria deles nos primeiros meses, o laço se estabeleceu forte e rápido e assim estamos nos amando até hoje - uns perto, outros nem tanto. Mas se não fosse o amor deles para recarregar minha bateria, eu não sei o que seria de mim. O melhor presente que vou levar para casa serão os afetos que aqui construí e que são eternos.
A experiencia de morar na Europa foi única e foi me transformando de uma forma que eu nem imaginava. Parece que se passaram uns dez anos. Saí de Recife com 21 anos e estou voltando com 31 (Só psicologicamente, continuo na flor da idade). Minha visão de mundo e de tudo que está a minha volta é outra. O universo se expandiu e um leque de novos conhecimentos e possibilidades se abriu diante de meus olhos. Comecei a discordar tambem de quem diz que a limitação de ganhar o mundo está apenas na cabeça das pessoas: "Bullshit!" Não só na cabeça, mas no bolso também. Tem que ter dinheiro e muito trabalho envolvido. Sem isso tu não compra euro pra ir pra Europa, sinto muito.
Me libertei de um monte de tabu que herdei da minha cultura e acabei adquirindo outros. Agora tenho dupla nacionalidade! (Psicologicamente) Aprendi a valorizar (ainda mais) as coisas simples da vida como aproveitar um jantar na casa dos amigos, anadar na rua atenta aos sons e cores (ou a ausência deles), tomar banho de praia gelado, aproveitar um dia de sol no parque deitada na grama, o farfalhar das folhas de outono, o sabor do chocolate quente da Butler's Chocolate num dia muito frio, reparar na mudança das estações e com elas a oscilação de humor das pessoas, os cheiros e sabores dessa terra tão verde.
Outra coisa coisa que não precisei de muito tempo para descobrir foi que os VERDADEIROS irlandeses não vivem em Dublin. Aqui é tudo Irish do Paraguay, sinto lhes informar! Tive a felicidade de morar na parte mais linda e maravilhosa da Irlanda: kerry. Lá encontrei irlandês, leprechaun, celtas, vikings e tudo que essa cultura tão rica tem para oferecer. Fui de canto a canto nesse país... fazendo amigos, imergindo no estilo de vida deles, aprendendo seus valores e conhecendo paisagens exuberantes pelos olhos de quem aqui nasceu e cresceu. Aprendi sobre a história, música, dança, culinária e assim já me sinto Irish. Até gaélico eu sei falar! (Umas poucas palavras, é obvio. hahaha) 
E no balanço disso tudo eu descobri que nesse um ano (ou dez?) fora de casa eu cumpri minha missão. Alcancei meus objetivos além do esperado. Aprimorei muito o idioma, viajei, mergulhei de cabeça na cultura, amadureci, me encontrei comigo em cada esquina, aprendi um universo de coisas, vi psicologia, constituí família e o mais importante: Amei incondicionalmente,
é com o coração bem pequenininho que vou me despedindo de casa para ir ao meu primeiro lar. Deixo outra terrinha e outra família.
A despedida nunca é fácil diante dos encontros maravilhosos que a vida tem me proporcionado. Eu vou, mas cada pedacinho da Irlanda vai comigo onde quer que eu esteja. Muita gratidão a esse país que me recebeu de braços abertos e que se tornou meu lar. 
Até breve, Ireland.

22 junho 2015

Porto da saudade


Eu vi a saudade nos olhos da Portuguesa.
Aconteceu lá na estação da Trindade, na cidade do Porto. Ela segurava as mãos de seu amado com afinco, a cada passo que dava era um beijo selado. Beijo com gosto de despedida e de não quero te deixar. O metrô seguia em direção ao aeroporto, que pode se chamar também de porto da saudade.
As portas se abriram e foi então que, ao entrar no veículo e olhar pela ultima vez seu enamorado, eu notei: Saudade, daquela que nem cabia nela. Transbordava pelo rosto como água corrente. Mesmo assim, ela sorriu para ele. Um sorriso de contigo eu vou ficar, me espera!
O metrô seguiu.
A vida seguiu.
E no olhar da portuguesa eu reconheci a saudade do meu.

30 maio 2015

Todo bom filho retorna à casa


Acordei no apartamento 68 e parecia um sonho. Quando meus olhos abriram à primeira luz do dia depararam-se com um rosto estranho e disseram um 'Oi' bem acanhado. Os novos moradores foram aparecendo e eu não os reconhecia. Foi então que sentei-me naquela poltrona perto da janela que nos permitia ver toda a Parnell Street e lembrei-me do começo de minha jornada. 
Eu vi o filme da minha trajetoria que se cruzou com a de tantos outros, que embora ja tenham partido, deixaram marcas de amor em meu ser. Lembrei da primeira noite: Uma mistura de excitação por ter acabado de chegar no mundo novo e um frio na barriga, que logo foram se acalmando quando passei horas conversando com aquela que seria minha grande amiga pra vida inteira.
Lembrei tambem dos sorrisos, dos olhares, das conversas na cozinha apertada, dos sonhos compartilhados (ou não), das reunioes regadas a muita comida boa e gargalhadas. Lembrei que apesar da dor e da dificuldade a gente tava junto, se reconhecia no outro e apesar de todos os pesares eramos felizes. A gente se abraçava e suavizava o peso.
Lembrei da força de casa um dentro de suas veredas e como aquelas pessoas cumpriram sua sina.
Olhei pra mesinha na sala e senti o cheiro de chá de gengibre com limão. Vi uma cerveja embaixo dela tambem.
Os italianos passavam dizendo pra brazileirada que deveriamos falar em Ingles (This is English Zone) e sorriamos.
Eu via todo mundo reunido na sala e senti a felicidade invadindo. Foi a dose de amor que eu precisava em tempos tao dificeis.
O 68 me abraçou mais uma vez e aqueceu meu coração. Gratidão!

22 maio 2015

Green watercolor


Eu escolhi morar num lugar que mais parece pintura. Uma aquarela com todos os tons de verde que se possa imaginar existentes, tem também azul, e por outro lado cinza. Por mais cores que esse quadro possa apresentar em sua parte superior, o verde sempre há de prevalecer. Esperança é a ultima que morre, ou melhor: Sobrevive. Não importam as estações do ano, seja laranja, cinza, colorida ou azul, se tu olhares para o chão verás que o verde nunca te abandonará. É tipo aquela centelha divina que existe dentro da gente: Por mais que venham as atribulações da vida, ela sempre há de iluminar e nos acalentar. 
Meu coração agora não pertence mais a um só lugar. A Irlanda, por mais ingrata que já tenha sido comigo, também se faz meu lar. Quando vejo teu verde de longe, uma paz me invade.
 Vai ver seja a esperança...

19 maio 2015

Até breve, Valentia.


Chega o dia de dizer tchau a essa ilha maravilhosa que me acolheu com tanto carinho.
Ela me mostrou o aconchego daqueles que valorizam a vida, a natureza, as pessoas em volta, as coisas mais singelas. Ofereceu sorriso sincero, respeito e amizade verdadeira. Além de belíssimas paisagens que nenhuma câmera pode captar com fidedignidade. É preciso ver para crer. Trabalhei muito (devo até ter ganhado músculos) por três semanas e não ganhei dinheiro algum por isso. O que recebi foi muito mais valioso: paz de espírito. Acordar ao som dos passarinhos de frente para o mar, tranquilidade, carinho, qualidade de vida e tantas outras coisas imateriais.
Convivi com seres humanos que se olham nos olhos, cumprimentam os "estranhos" na rua. Aqueles que cultivam os verdadeiros valores da vida e são felizes por apenas serem. Encontrei os que procurei assim que desembarquei na Ilha Esmeralda pela primeira vez. Os irlandeses gentis, bem humorados, felizes... Eles existem! E estão bem longe de Dublin! Acho que até encontrei um Leprechaun no meio das ovelhas.
Aqui encontrei mais um lar. Estou partindo, mas tu já fazes morada no meu coração Valentia.

Maio/2015

16 maio 2015

Tão perto, tão longe


Nós vivemos no mesmo país, que comparado à nossa pátria é do tamanho de um estado. Eu na Costa Leste e tu na Oeste. Mas parece que eu vivo em Marte e tu na Terra.
Nossos planetas não se parecem em nada - Vidsas completamente distintas. Retas paralelas que só se tocam no infinito que a gente nem consegue ver. Eu acho que elas se tocam pelo amor, amizade, lealdade... Na intimidate do ser. Um dia achei que fosse  injuto eu morar em Marte e você na Terra, mas foi bobagem minha. É preciso,

Quando isso tudo acabar e a gente se (re)encontrar no nosso mundo (des)igual eu vou estender mão firme e abraçar forte, sabendo que se um dia a gente se perder, no infinito iremos nos encontrar. Porque a tua amizade é verdade,

Sinto saudade do tempo que a gente será só voz e violão, de estar tão perto.

A gente veio pra cá
Pros nossos sonhos realizar
Uns se cruzam, outros não se alinham
E a gente fica desigual
Tão perto, tão longe.

05 maio 2015

Valentia Island (Primeiras impressões)


Adeus Dublin, olá Valentia Island (Pelo menos por 3 semanas). 
Depois de muita ralação em Dublin, decidi, para a minha saude mental e espiritual, fazer algumas semanas de trabalho voluntario nessa olha cheia de encantos. Foram cinco horas e meia de viajem partindo da capital irlandesa, mas cada segundo valeu a pena quando me deparei com as paisagens desse lugar. 
Para aqueles que se interessarem, eu embarquei nessa aventura por um website chamado Helpex. Atraves deste voce pode Se voluntariar a trabalhar em varios lugares do mundo em troca de moradia e alimentação. Normalmente trabalha-se de 4 a 6 horas por dia (normalmente negociavel) e o tempo livre voce tem para explorer o local ou o que for da sua preferência, é claro. 
Eu escolhi trabalhar numa Dairy Farmhouse. Eles tem vaquinhas para vender leite (mais de um tipo), yogurte e sorvete organico (milhoes de sabores maravihosos). Todo o processo de engarrafamento, armazenamento e preparo é feito a mão! Diferente de tudo que ja fiz na vida, uma experiencia unica. O trabalho, como falei, é bem manual e ao mesmo tempo requer bastante atenção + agilidade.
As pessoas que aqui vivem e trabalham são extremamente amigáveis e me tratam com muito zelo desde o primeiro minuto. São a terceira geração de uma familia de fazendeiros antiga, cheia de historia pra contar (e eu cheia de ansia para ouvi-las).
Sobre a acomodação? Nada de quartinho no ático da casa grande. Estou morando num trailer super aconchegante e bonitinho. Aí é que eu me sinto numa aventura mesmo! Acordo ouvindo o canto dos passaros e quando abro a porta do quarto me deparo com uma paisagem de mar e montanhas exuberantes. 
Hoje de manha quando estava a contemplar a beleza da Criação, um garotinho chegou junto de mim e entregou-me um dente de leão. Disse que eu deveria fazer um pedido. Sabe o que eu desejei?
Apenas estar aqui.
Obrigada Valentia, por abrir teus braços para mim.

14 abril 2015

Sobre paciência e perdão



"Erga a cabeca corajosamente e contemple o ceu iluminado e tranquilo. Embora recoberto de nuvens, você sabe que elas passarão e o ceu voltará a brilhar. Siga à frente que todas as nuvens da existancia tambem hao de passar e voltará a brilhar o Sol da alegria." (Minutos de sabedoria - C. T. Pastorino)

"Quantas vezes perdoarei ao meu irmao?
Perdoar-lhe-eis não sete vezes, mas setenta vezes sets vezes." (O evangelho Segundo o Espiritismo - A. Kerdec)

Como muitos ja descobriram, intercambio não é só alegria e diversão. Estes elementos devem sim estar inclusos, mas não são a parte principal. Eu diria que o sinônimo de intercambio é desafio (para aqueles que se propoem e se lançam, é claro).
Saí de casa com as malas cheias de expectativas e um desafio para mim mesma: A busca pelo auto conhecimento.
Muito bonita essa sentença. Tem até aquele ar meio pomposo! Mas não é brincadeira. Sabe aquela frase: "Pedi e obtereis"? Pois é. Eu pedi e veio. Uma avalanche de dificuldades que foram me forçando a olhar para dentro e trabalhar com mais empenho no processo de burilamento. Achei que o primeiro mês seria o mais difícil. Doce ilusão. A bomba mesmo veio quando consegui o meu primeiro emprego.
Aupair- um termo bonito para denominar nada mais, nada menos que babá.
A função teórica de uma Aupair é apenas ajudar com as crianças enquanto os pais não estão em casa, NÃO ENVOLVENDO serviços domésticos. HA HA HA
Tudo balela.
Na prática a coisa é bem diferente, salve algumas exceções (ainda existem raras familias que sabem e respeitam a real função de uma Aupair).
Pois bem.
Eu acabei (não por acaso) caindo na casa de uma dessas familias tirânicas que acreditam veemente que a Aupair é uma serva que esta ali para trabalhar incessantemente em prol de seus desejos e necessidades. Para resumir o caso, eu era mais faxineira que babá e ainda ouvia das CRIANÇAS coisas Como "Essa é a sua obrigação" "Você não deveria estar limpando a casa?" "Não vou fazer porque você esta aqui para isso" etc.
Ao fim do dia a unica coisa que eu queria era um banho quente e a minha cama (que era na casa deles). A sensação era de que eu nunca saia do trabalho.
As vezes eu chorava silenciosanente no meu quarto e pedia a Deus que me desse forças para continuar. Pedia e obtia! Nunca fiquei desamparada. Por mais que fosse difícil e eu achasse que não iria suportar, a ajuda vinha e eu encontrava forças que eu nem sabia que tinha.
Foi um exercício de muita paciência. Lembrava-me bastante da lição de Chico Xavier sobre isso - quando alguém te insulta e tu sentes aquela vontade enorme de revidar, enche tua boca de água e espera o momento passar.
Era bem isso que eu fazia. Até que comecei a notar que nada saia pela minha boca, mas saia pelo pensamento. Minha mente estava caotica e eu alimentava um sentimento de raiva e revolta para com aqueles pessoas. No momento em que tomei consciencia disso, mais uma vez, roguei a Deus que me ajudasse a abrandar a mente e o coração. Aos poucos fui aprendendo a mudar o pensamento toda vez que aquela onda de raiva me acometia.
Aceitei minha prova.
E quando você aceita, dói menos ou até para de doer.
Você tem que se perguntar: Da pra mudar naquele momento? Não. Ficar alimentando odio vai ajudar? Não.
Então aceita que dói menos.
O tempo foi passando e cada dia era uma constante luta interna. A vontade de revidar na mesma moeda era grande, mas aquilo ja não me cabia e lutei incessantemente contra isso. Fui entendendo que cada um só dá o que tem. E tratei de distribuir o amor que recebi a vida inteira. Fui plantando a sementinha no coração de Julianne, Annabelle e Kate, mesmo que a reciproca não fosse verdadeira. Assim descobri o lado bom delas e me esforcei para evidenciá-los.
Seis meses se passaram e chegou o tão esperando momento de dizer adeus. Era evidente em seus olhos, abraços e algumas lagrimas que elas sentiriam minha falta e a recíproca era verdadeira. Fiquei até sem reaçao quando a minha chefe, a qual sempre me tratou com certa tirania, me abraçou e agradeceu por tudo. Convidaram-me para visita-los quando fosse possivel e me anunciaram portas abertas para o que precisasse.
Minutos antes, sentada sozinha na sala de estar, fiz uma retrospectiva de todo o tempo que estive naquela casa e mais uma vez agradeci a Deus por ter me dado tanta força para conseguir chegar até ali. E que Ele continuasse amparando e iluminando aquela familia.
Perdoar é se libertar de amarras que você mesmo criou. É preciso seguir em frente e ter a certeza de que tudo um dia passarão, que o Sol voltará a brilhar. Nada é permanente. Nem mesmo esse sopro de vida que experienciamos. Tenhamos fé e trabalhemos, amigos!
To the Black family, no hurt feelings. 

19 março 2015

Sobre o St Patrick's Day


Como muitos ja sabem, o St Patrick's day é uma comemoraçao famosíssima na Irlanda - Visto que este senhor é nada mais, nada menos que o padroeiro na Irlanda. Ele trouxe o cristianismo para a Ilha Esmeralda e reza a Lenda que o mesmo expulsou todas as cobras aqui existentes.
Diante disso, todo dia 17 de Março os Irlandeses celebram o dia de St Patrick.
Em outros termos (sem papas na lingua) é o dia que os Irish mais bebem no ano. Outra coisa pela qual a Irlanda é famosa, o nivel de alcool que esse povo é capaz de ingerir.
Inumeros turistas do mundo todo invadem a cidade a fim de participar desse festival que ocorre durante quatro dias, finalizando no 17 de Março. Tudo se torna verde, desde as roupas ate a iluminaçao de varios pontos turisticos da cidade.
Portanto, se voce é o tipo de pessoa que gosta muito de agitaçao, grandes festas, alcohol level maximum: Dublin é o lugar certo para o St Patrick's. Contudo, se voce (Como eu) prefere tranquilidade e festas mais intimistas existem varias outras cidades afastadas da capital que te proporcionarão isso.
O lugar que eu escolhi estar nesta data foi Galway. Uma cidadezinha do outro lado da Ilha - cheia de encantos, tradicionalidade, musicalidade e tudo de bom que a Irlanda tem a oferecer. O Sol apareceu e abrilhantou ainda mais o espetaculo. As ruas exalavam Arte e musicalidade tipicos do lugar. Havia luz em todo lugar.


O desfile nao era tao pomposo quanto o de Dublin, mas para mim justamente por isso se fazia mais bonito. Era intimo. Era a cara de Galway, feito e estrelado pelo seu povo. Uma verdadeira manifestaçao cultural que conta a historia do povo pelo povo.
Enfim, o St Patrick's day é uma excelente oportunidade de conhecer e se aproximar mais da cultura Irlandesa, desde que voce saiba aproveita-lo da melhor forma possivel.

Segue adiante  video com varias musicas tradicionais Irlandesas presenciadas tanto em Dublin quanto em Galway nesse festival: 


https://youtube.com/fPXPuVD-HS0


Encontros e (não) despedidas


"Tem gente que chega pra ficar, tem gente que vai pra nunca mais. Tem gente que vem e quer voltar, tem gente que vai e quer ficar, tem gente que veio so olhar, tem gente a sorrir e a chorar e assim chegar e partir" 

Dia desses eu comecei a escrever um bocado de coisa bonita sobre a nossa amizade e tudo que a gente passou na Irlanda. Sobre aquela base que se solidificou rapidamente e so mesmo tempo sem pressa. Sobre os teus videos inusitados que sempre me fazem rir, ou catar moeda pra comer McDonald's, ou sobre aquele monte de coisa que nos sensibilisa. Foi ai que eu percebi que eu tava me despedindo. Larguei a caneta imediatamente e me recusei a escrever qualquer palavra que fosse. Eu nao quero me despedir de voce, mesmo que seja um até breve. Quero que tu continue junto de mim, me dando abraco e braço firme como tu sempre fez. Tu deixou muito mais que uma caixinha de skitles , uma carta e uma (linda) oraçao. Mesmo longe, tu ta perto. Porque eu continuo cultivando a tua amizade dentro de mim. Entao, não. Eu não vou te dizer adeus.
Onde quer que tu estejas, eu tambem to contigo. E vai (Maria) Nathalia, aponta pra fe e rema.

13 fevereiro 2015

Café da manhã

Foto: Camila Cicolo

Seu silêncio me incomodava tanto que a vontade que eu tinha era jogar aquela tigela de cereal cheia de leite quente em sua face imóvel. Ou quem sabe atingi-lo com as mãos fechadas até que meus braços não suportassem mais. Eu queria reação, fluxo interminável no diálogo, gargalhada exagerada, emoção transparecendo na linguagem corporal. Seria muito pedir para ver sobrancelhas arqueadas que te falam tanto sobre aquele ser? Uma dose de espontaneidade, dois shots de exagero, uma batida de conversa e uma pitada de leveza com limão, por favor! Odeio olhar na direção de olhos mortos como aquele peixe que há muito parou de se debater após ser capturado no mar, nem tampouco gosto quando falo sem parar e ele só responde com meias palavras. Eu grito! Porque não aguento mais falar sozinha.
Quero que tu vás embora e leve contigo toda essa tua monotonia. Levanta dessa mesa e nem olha pra trás. Aproveita pra levar esse silêncio junto contigo, antes que eu te acerte com os dardos em forma de palavras que doerão mais que uma tigela de cereal e leite quente lançada na tua cara no café da manhã.

06 fevereiro 2015

Não, ninguém imagina!


Ninguém imagina o que é estar no teu lugar. Cada um com suas necessidades, sofrimentos, prazeres e desprazeres. Eu acho até bonito quando alguém cheio de compaixão olha pra mim e diz: Eu imagino o que você esta passando. Não amigo, você não imagina. Nem vai conseguir!
Nem nos meus mais loucos sonhos eu me imaginaria nesse cenário, antes de chegar aqui.
Só quem sabe o que a gente passa e sente com toda a sua intensidade é a gente mesmo. Não tem palavra que seja tão fiel.
Tem horas que o negócio pesa, dá uma vontade imensa de chorar (e aí eu choro, por respeito a mim mesma) e de jogar tudo pro alto. Mas sabe porque eu não faço? Sabe porque eu vou ficar até o fim? Porque me custou MUITO estar aqui (não só a mim) e quando digo isso não me refiro só a coisas materiais. Tem me custado muito emocionalmente e NINGUÉM pode imaginar isso. Dilma não paga as minhas contas, minhas viagens, nem muito menos me da suporte emocional e estabilidade. É o meu trabalho DURO que me proporciona isso. E é difícil, NINGUÉM imagina o quanto. O que todo mundo vê e curte é um conjunto de fotos lindas nas redes sociais, mas NINGUÉM imagina todo o esforço e dificuldade passados para se chegar ali e conseguir um ângulo bom.
Já me revoltei muito com certas situações, mas se tem uma sábia frase que eu aprendi nesses 5 meses de intercambio foi: Aceita que dói menos.
Porque quando nos revoltamos e não aceitamos estar em determinada condição de provação, há sofrimento. É como se a gente ingerisse um veneno produzido por nós mesmos, que só vai atingir uma única pessoa. Adivinha quem? Você mesmo. Então, qual o ponto em se manter tempestuoso?
Só te faz mal e se tu não tem poderes imediatos para mudar aquilo, a ira só vai te machucar. É como se você estivesse cavando o seu próprio buraco. Enquanto só dá pra ter isso, aceita que dói menos.
Ninguém é inocente, nem passa por nenhum suplício sem objetivo de crescimento. Deus é infinitamente justo e bom, não desampara nunca. É a hora de exercitar muitas virtudes. Então meus amigos: Paciência, gafanhoto. 
E aceita, que dói menos.

04 fevereiro 2015

Limerick, com amor!


O meu desbravamento pelo território Irlandês começou quando eu saí da tão amada e venerada Dublin. Comecei a visitar outras cidades que exalavam o que eu sempre havia imaginado encontrar na Ilha Esmeralda. Dentre estes encontra-se um lugar chamado Limerick.
A princípio só havia ouvido boatos de que era um lugar violento e, diante disso, deveria tomar muito cuidado (esse povo definitivamente não sabe o que significa violência no Brasil). Fui assim mesmo! Com a cara, a coragem e uma mochila contendo somente o necessário. Fui recebida por um amigo irlandês que foi extremamente gentil comigo do primeiro ao último segundo do nosso encontro. Senti-me aconchegada e notada como nunca havia me sentido na capital irlandesa - aqui em Dublin tu és um zé-ninguém, só mais um dentre os milhares de imigrantes  que habitam o lugar-. Houve uma troca de cultura como sempre imaginei que aconteceria num intercambio.
Sean me mostrou a cidade com outros olhos, provenientes daqueles que apreciam as coisas simples da vida como a natureza e a nossa conexão infindável com a mesma. A beleza de quem tem os olhos de ver mais além. Contou-me a história do lugar diferentemente de qualquer guia turístico, com a voz de quem lá cresceu, porque tinha algo (muito) de sua subjetividade e vivência carregadas  naquelas palavras. Me mostrou lugares que fizeram meu coração cantar e me sentir mais perto de Deus. 
Eu vi nosso Pai em cada paisagem exuberante que meus olhos presenciaram. Respirei o ar puro e fresco do interior e senti uma paz inexplicável diante daquele lago. O céu azul e os raios de sol me abraçaram  junto com a paisagem e me fizeram sentir em casa. Minha alma estava renovada! Conheci pessoas maravilhosas que me olharam nos olhos, sorriram, me contaram histórias da terra e se interessaram em saber da minha história também. Gente que é gente, os quais a gentileza faz parte de sua natureza.
Não encontrei nada do que tinham me dito que iria encontrar. Como é possível notar, tudo depende da forma de olhar.
Obrigada, Limerick! Por me proporcionar momentos tão especiais e inesquecíveis, por me tirar da névoa e distanciamento da cidade grande e por me receber de braços abertos com tanto amor. Em ti eu vi (e senti) um pouco do que é estar e viver na Irlanda.

26 janeiro 2015

Das flores metafóricas: Nicole Horn

Foto: Paolo D'Ettorre

Tinha cabelos da cor das folhas de outono e seu rosto transparecia tranquilidade. Por trás da pele branca com algumas pinceladas alaranjadas (do jeito que o ceu fica na hora do pôr do sol) habitava mulher sagaz, cheia de sensibilidade. O sorriso era meio acanhado, discreto, como de quem chega de mansinho, vai se alojando (como quem não quer nada) e quando você viu: criou raiz. Cheia de gracejo atravessou um oceano repleto de sonhos, expectativas e vontades. Abriu as asas e voou para longe de São Bernardo para viver uma das maiores aventuras de sua vida. Suas lentes, praticamente um terceiro olho, captaram a essência de lugares e pessoas. Aliás, foram capazes de captar sentimento. A menina de cabelos de outono transcendeu com sua arte em sua passagem pela Ilha esmeralda. O jeito Nicole de ser me cativou de forma que sua ausência já é sentida em mim. Deixou saudade ao embarcar de volta pra São Bernardo cheia de bagagem (imaterial) e amor conquistado. Ela saiu do apartamento 68 ainda com lágrimas nos olhos, mas com a certeza que era hora de alçar voo outra vez.

16 janeiro 2015

Das flores metafóricas: Apartamento 68


68, Greeg Court, Parnell Street - Dublin 1 - Ireland.
Esse foi o meu primeiro (de alguns) endereço(s) na Irlanda e lá encontrei meus primeiros afetos. Pessoas transbordando amor e cheias de arte correndo pelas veias, cada um com seu jeitinho particular. Lugar grande, mas aconchegante. Cheio de história pra contar daqueles que estavam apenas no comecinho da jornada. Paredes impregnadas de sonhos, desejos, ambições, olhares e outras coisas as quais eu prefiro nem comentar. A libido corre solta por lá também: sentou no sofá, corre risco de engravidar.
Primeiro veio Nathália Prado com sua poesia que guia e encanta a todos que a acompanham (muitas delas foram construídas lá). Depois vieram as fotógrafas Camila Cicolo e Nicole Horn, as quais capturaram momentos dentro e fora que serão imortalizados para sempre em nossas memórias.
Nicole com seu jeito simples e singular de ver através das lentes me encantou. A menina tem doçura até falando palavrão!
Camila com seus olhos cheio de brilho e sorriso de criança que não cessa de ser feliz, me abraçou e ficou.
Pouco tempo depois chegou a Luisa Montechiari - meia hora de conversa já foi o suficiente para nos aproximarmos e descobrirmos o tanto de afinidade que tínhamos com a carioca que mais parecia Irlandesa. Era professora de filosofia e artes, além de Chef nas horas vagas. Ela pegou todo mundo pelo bucho com sua deliciosa culinária e foi (é) responsável pelos almoços e jantares da nossa família em formação.
Em algum momento chegou a Vanessa Amorim também, mas eu já não morava mais na casa e acabei conhecendo-a em uma dessas comilanças que costumávamos agendar. Essa é daquelas que (só) observa!
Foi então que chegaram  os meninos: Emery Augusto e Marcelo Vieira. Eles trouxeram mais musicalidade e risadas para o aconchego do lar. Cheios de sensibilidade e piadas prontas, completaram a parte que ainda faltava.
E foi assim que surgiu a família 68.
Como toda boa família brasileira nos nos reunimos na mesa da cozinha para conversar horas a fio sobre tudo e sobre nada. As vezes acontecem os desencontros e desajustes, rola aquela intervenção e depois acabamos fazendo aquele almoço de Domingo para reconciliação. Compartilhamos nossas histórias de vida, alegrias, dores e abraçamos uns aos outros. São aquelas pessoas que apesar de todos os pesares estão ali por você.
Cada um do seu jeitinho chegou e ficou. Seja na Irlanda, no Brasil ou em qualquer lugar do mundo: eles já fazem morada no meu coração. 

A flor e o vento


E eu que pensei que nunca escreveria assim com tanta voracidade... Minh'alma nua, exibindo as curvas de meu âmago clama pelo renascer. Em uma de minhas viagens pelo mundo afora avistei à beira do penhasco uma pequena flor em meio a gigantescas estruturas rochosas. Só pedra e do outro lado a imensidão do vazio. Estava ela em uma posição que denotava tentativa incessante de escapulir (ou quem sabe só estaria dançando?). Mas como se atrevia uma flor tão pequenina querer pegar carona no vento que cantarolava entre as fendas do grande penhasco? Mal podia ela se manter estável diante de tamanha grandiosidade. A franzina flor cheia de ousadia fizera de sua vida a organização de uma grande fuga, pois seu sonho era voar. 
Sentei-me à beira do penhasco e a observei por um longo tempo a farfalhar de um lado para o outro. Ela me encarou como quem implorava pelo meu auxílio, mas eu não entendia o que ela falava. O barulho do vento era ensurdecedor. Foi então que olhei mais atentamente  e se flores tivessem olhos eu os estaria encarando naquele momento. Eu vi sua alma, nua também. Levantei-me devagar, sentindo os ossos estalando, e afastei algumas pedras com os pés ainda dormentes. A flor me sorriu quando finalmente pôde voar com o sussurro do vento. Eu sorri junto e senti uma paz profunda ao perceber no outro a liberdade em sua mais plena forma. Eu queria ser livre também, então dancei à beira do penhasco e à beira de mim.
Voei.

13 janeiro 2015

Olhos de ver


Dia desses um estranho veio me perguntar quais tinham sido as minhas resoluções para o ano novo. Eu pensei um pouco e vi que pela primeira vez eu não fechei os olhos e pedi alguma coisa na virada do novo ano que se aprochegava. Durante muitos anos, nesse momento, eu implorava ao universo que me levasse direto para a realização do grande sonho de morar ou (ao menos) conhecer a Inglaterra (mais especificamente, Londres). Desta vez não o fiz. Não porque já tenha alcançado essa graça (como diz a minha avó), mas porque eu estou vivendo o meu grande sonho, mesmo ele não sendo no lugar que eu esperava, e mesmo que não esteja acontecendo do jeito que eu imaginava. Então, não pedi nada. Só agradeci com os olhos arregalados diante de todas aquelas luzes coloridas a tomar conta do céu. 
Passei mais um tempo refletindo e pensei que o que eu preciso mesmo é continuar o trabalho de (re)encontro comigo mesma. Exercitar o "olhar com olhos de ver": ver todas as situações com olhos serenos e sorridentes, tendo a certeza de que nada é por acaso e que tudo é crescimento. Não se deixar levar pela onda de negatividade que assola tanta gente nesse mundo afora, porque se permitir entrar, acaba se tornando um poço sem fundo. É olhar com os olhos de indulgência para comigo e com o outro. E assim seguir tranquila, mesmo quando "o bicho tá pegando". Estar em paz consigo mesmo. Desejo isso pra mim e para você. E muita, muita, muita coragem! 
Coragem de se permitir, de lutar e as vezes até de aceitar. Coragem de se aceitar como tu es, cheio de manias, luz e sombras. Coragem pra mudar aquilo que não mais te apraz, mas se isso partir de ti e não do outro. Coragem pra sorrir , mesmo quando é inverno. E coragem pra ficar triste, mesmo se for verão. Coragem de ser só e gostar da própria companhia. Coragem de ser, cheio de pontos, virgulas, exclamações, reticências... Coragem de se jogar ao sabor do vento, de seguir por um caminho e tomar outro se aquele não te fez bem. Coragem de gritar, de ser feliz, de amar (pois só o amor te libertará). Coragem de ter coragem! Avante amigos, que é chegada a nossa hora ( e faz tempo!)... Só é preciso termos olhos de ver.