13 fevereiro 2015

Café da manhã

Foto: Camila Cicolo

Seu silêncio me incomodava tanto que a vontade que eu tinha era jogar aquela tigela de cereal cheia de leite quente em sua face imóvel. Ou quem sabe atingi-lo com as mãos fechadas até que meus braços não suportassem mais. Eu queria reação, fluxo interminável no diálogo, gargalhada exagerada, emoção transparecendo na linguagem corporal. Seria muito pedir para ver sobrancelhas arqueadas que te falam tanto sobre aquele ser? Uma dose de espontaneidade, dois shots de exagero, uma batida de conversa e uma pitada de leveza com limão, por favor! Odeio olhar na direção de olhos mortos como aquele peixe que há muito parou de se debater após ser capturado no mar, nem tampouco gosto quando falo sem parar e ele só responde com meias palavras. Eu grito! Porque não aguento mais falar sozinha.
Quero que tu vás embora e leve contigo toda essa tua monotonia. Levanta dessa mesa e nem olha pra trás. Aproveita pra levar esse silêncio junto contigo, antes que eu te acerte com os dardos em forma de palavras que doerão mais que uma tigela de cereal e leite quente lançada na tua cara no café da manhã.

06 fevereiro 2015

Não, ninguém imagina!


Ninguém imagina o que é estar no teu lugar. Cada um com suas necessidades, sofrimentos, prazeres e desprazeres. Eu acho até bonito quando alguém cheio de compaixão olha pra mim e diz: Eu imagino o que você esta passando. Não amigo, você não imagina. Nem vai conseguir!
Nem nos meus mais loucos sonhos eu me imaginaria nesse cenário, antes de chegar aqui.
Só quem sabe o que a gente passa e sente com toda a sua intensidade é a gente mesmo. Não tem palavra que seja tão fiel.
Tem horas que o negócio pesa, dá uma vontade imensa de chorar (e aí eu choro, por respeito a mim mesma) e de jogar tudo pro alto. Mas sabe porque eu não faço? Sabe porque eu vou ficar até o fim? Porque me custou MUITO estar aqui (não só a mim) e quando digo isso não me refiro só a coisas materiais. Tem me custado muito emocionalmente e NINGUÉM pode imaginar isso. Dilma não paga as minhas contas, minhas viagens, nem muito menos me da suporte emocional e estabilidade. É o meu trabalho DURO que me proporciona isso. E é difícil, NINGUÉM imagina o quanto. O que todo mundo vê e curte é um conjunto de fotos lindas nas redes sociais, mas NINGUÉM imagina todo o esforço e dificuldade passados para se chegar ali e conseguir um ângulo bom.
Já me revoltei muito com certas situações, mas se tem uma sábia frase que eu aprendi nesses 5 meses de intercambio foi: Aceita que dói menos.
Porque quando nos revoltamos e não aceitamos estar em determinada condição de provação, há sofrimento. É como se a gente ingerisse um veneno produzido por nós mesmos, que só vai atingir uma única pessoa. Adivinha quem? Você mesmo. Então, qual o ponto em se manter tempestuoso?
Só te faz mal e se tu não tem poderes imediatos para mudar aquilo, a ira só vai te machucar. É como se você estivesse cavando o seu próprio buraco. Enquanto só dá pra ter isso, aceita que dói menos.
Ninguém é inocente, nem passa por nenhum suplício sem objetivo de crescimento. Deus é infinitamente justo e bom, não desampara nunca. É a hora de exercitar muitas virtudes. Então meus amigos: Paciência, gafanhoto. 
E aceita, que dói menos.

04 fevereiro 2015

Limerick, com amor!


O meu desbravamento pelo território Irlandês começou quando eu saí da tão amada e venerada Dublin. Comecei a visitar outras cidades que exalavam o que eu sempre havia imaginado encontrar na Ilha Esmeralda. Dentre estes encontra-se um lugar chamado Limerick.
A princípio só havia ouvido boatos de que era um lugar violento e, diante disso, deveria tomar muito cuidado (esse povo definitivamente não sabe o que significa violência no Brasil). Fui assim mesmo! Com a cara, a coragem e uma mochila contendo somente o necessário. Fui recebida por um amigo irlandês que foi extremamente gentil comigo do primeiro ao último segundo do nosso encontro. Senti-me aconchegada e notada como nunca havia me sentido na capital irlandesa - aqui em Dublin tu és um zé-ninguém, só mais um dentre os milhares de imigrantes  que habitam o lugar-. Houve uma troca de cultura como sempre imaginei que aconteceria num intercambio.
Sean me mostrou a cidade com outros olhos, provenientes daqueles que apreciam as coisas simples da vida como a natureza e a nossa conexão infindável com a mesma. A beleza de quem tem os olhos de ver mais além. Contou-me a história do lugar diferentemente de qualquer guia turístico, com a voz de quem lá cresceu, porque tinha algo (muito) de sua subjetividade e vivência carregadas  naquelas palavras. Me mostrou lugares que fizeram meu coração cantar e me sentir mais perto de Deus. 
Eu vi nosso Pai em cada paisagem exuberante que meus olhos presenciaram. Respirei o ar puro e fresco do interior e senti uma paz inexplicável diante daquele lago. O céu azul e os raios de sol me abraçaram  junto com a paisagem e me fizeram sentir em casa. Minha alma estava renovada! Conheci pessoas maravilhosas que me olharam nos olhos, sorriram, me contaram histórias da terra e se interessaram em saber da minha história também. Gente que é gente, os quais a gentileza faz parte de sua natureza.
Não encontrei nada do que tinham me dito que iria encontrar. Como é possível notar, tudo depende da forma de olhar.
Obrigada, Limerick! Por me proporcionar momentos tão especiais e inesquecíveis, por me tirar da névoa e distanciamento da cidade grande e por me receber de braços abertos com tanto amor. Em ti eu vi (e senti) um pouco do que é estar e viver na Irlanda.