14 abril 2015

Sobre paciência e perdão



"Erga a cabeca corajosamente e contemple o ceu iluminado e tranquilo. Embora recoberto de nuvens, você sabe que elas passarão e o ceu voltará a brilhar. Siga à frente que todas as nuvens da existancia tambem hao de passar e voltará a brilhar o Sol da alegria." (Minutos de sabedoria - C. T. Pastorino)

"Quantas vezes perdoarei ao meu irmao?
Perdoar-lhe-eis não sete vezes, mas setenta vezes sets vezes." (O evangelho Segundo o Espiritismo - A. Kerdec)

Como muitos ja descobriram, intercambio não é só alegria e diversão. Estes elementos devem sim estar inclusos, mas não são a parte principal. Eu diria que o sinônimo de intercambio é desafio (para aqueles que se propoem e se lançam, é claro).
Saí de casa com as malas cheias de expectativas e um desafio para mim mesma: A busca pelo auto conhecimento.
Muito bonita essa sentença. Tem até aquele ar meio pomposo! Mas não é brincadeira. Sabe aquela frase: "Pedi e obtereis"? Pois é. Eu pedi e veio. Uma avalanche de dificuldades que foram me forçando a olhar para dentro e trabalhar com mais empenho no processo de burilamento. Achei que o primeiro mês seria o mais difícil. Doce ilusão. A bomba mesmo veio quando consegui o meu primeiro emprego.
Aupair- um termo bonito para denominar nada mais, nada menos que babá.
A função teórica de uma Aupair é apenas ajudar com as crianças enquanto os pais não estão em casa, NÃO ENVOLVENDO serviços domésticos. HA HA HA
Tudo balela.
Na prática a coisa é bem diferente, salve algumas exceções (ainda existem raras familias que sabem e respeitam a real função de uma Aupair).
Pois bem.
Eu acabei (não por acaso) caindo na casa de uma dessas familias tirânicas que acreditam veemente que a Aupair é uma serva que esta ali para trabalhar incessantemente em prol de seus desejos e necessidades. Para resumir o caso, eu era mais faxineira que babá e ainda ouvia das CRIANÇAS coisas Como "Essa é a sua obrigação" "Você não deveria estar limpando a casa?" "Não vou fazer porque você esta aqui para isso" etc.
Ao fim do dia a unica coisa que eu queria era um banho quente e a minha cama (que era na casa deles). A sensação era de que eu nunca saia do trabalho.
As vezes eu chorava silenciosanente no meu quarto e pedia a Deus que me desse forças para continuar. Pedia e obtia! Nunca fiquei desamparada. Por mais que fosse difícil e eu achasse que não iria suportar, a ajuda vinha e eu encontrava forças que eu nem sabia que tinha.
Foi um exercício de muita paciência. Lembrava-me bastante da lição de Chico Xavier sobre isso - quando alguém te insulta e tu sentes aquela vontade enorme de revidar, enche tua boca de água e espera o momento passar.
Era bem isso que eu fazia. Até que comecei a notar que nada saia pela minha boca, mas saia pelo pensamento. Minha mente estava caotica e eu alimentava um sentimento de raiva e revolta para com aqueles pessoas. No momento em que tomei consciencia disso, mais uma vez, roguei a Deus que me ajudasse a abrandar a mente e o coração. Aos poucos fui aprendendo a mudar o pensamento toda vez que aquela onda de raiva me acometia.
Aceitei minha prova.
E quando você aceita, dói menos ou até para de doer.
Você tem que se perguntar: Da pra mudar naquele momento? Não. Ficar alimentando odio vai ajudar? Não.
Então aceita que dói menos.
O tempo foi passando e cada dia era uma constante luta interna. A vontade de revidar na mesma moeda era grande, mas aquilo ja não me cabia e lutei incessantemente contra isso. Fui entendendo que cada um só dá o que tem. E tratei de distribuir o amor que recebi a vida inteira. Fui plantando a sementinha no coração de Julianne, Annabelle e Kate, mesmo que a reciproca não fosse verdadeira. Assim descobri o lado bom delas e me esforcei para evidenciá-los.
Seis meses se passaram e chegou o tão esperando momento de dizer adeus. Era evidente em seus olhos, abraços e algumas lagrimas que elas sentiriam minha falta e a recíproca era verdadeira. Fiquei até sem reaçao quando a minha chefe, a qual sempre me tratou com certa tirania, me abraçou e agradeceu por tudo. Convidaram-me para visita-los quando fosse possivel e me anunciaram portas abertas para o que precisasse.
Minutos antes, sentada sozinha na sala de estar, fiz uma retrospectiva de todo o tempo que estive naquela casa e mais uma vez agradeci a Deus por ter me dado tanta força para conseguir chegar até ali. E que Ele continuasse amparando e iluminando aquela familia.
Perdoar é se libertar de amarras que você mesmo criou. É preciso seguir em frente e ter a certeza de que tudo um dia passarão, que o Sol voltará a brilhar. Nada é permanente. Nem mesmo esse sopro de vida que experienciamos. Tenhamos fé e trabalhemos, amigos!
To the Black family, no hurt feelings.