03 agosto 2015

A viagem não terminou

Certa feita uma colega de Dublin comentara em minha página no Facebook que acreditava que a viagem não acabaria por ali. Concordo plenamente! Quando a gente parte pro mundo é uma viagem sem volta, tudo muda. Tu nunca mais  terás apenas uma nacionalidade, ou um só prato típico ou favorito, ou um só lugar para chamar de lar. Não existe mais âncora, só asas.
Após quase um ano de Irlanda voltei ao Brasil e o nada surpreendente processo de estranhamento já começara enquanto esperava o voo da conexão para finalmente chegar em Recife - PE. Sentia uma brusca mudança de temperatura, pois meu corpinho acostumado a dez graus Celsius estava a sentir a prévia do que seria o calor infernal de "Hellcife". Os preços eram exorbitantes: Gargalhei alto quando avistei um anuncio um Capuccino + UM pão de queijo pequeno por doze reais e noventa centavos. Fiquei estarrecida! Mais adiante na fila de espera para o embarque, notei que as pessoas não conseguiam se organizar em duas filas (preferencial e comum), por preguiça de ler uma placa ou qualquer outra dificuldade que eu desconheço. Para a minha surpresa todos estavam na preferencial e só eu na fila normal, mesmo diante das duas placas instruindo-nos quanto ao que fazer. Além disso, também não existia moderação no volume de voz: As pessoas falavam tão alto que o saguão inteiro se ouvia. Já no avião, uma moça na minha fileira sentou-se na poltrona do corredor, a qual não lhe pertencia, e quando o rapaz destinado àquele assento chegou a mesma simplesmente lhe disse que para o bem geral da nação ficaria ali por estar gripada. HA! Vi a consternação no rosto do homem que não queria sentar na janela e ofereci-lhe meu lugar. Ele aceitou, mas alguns minutos depois deslocou-se para uma poltrona vaga do outro lado do corredor. 
Estranhei.
E não se trata de "frescura", se trata de fazer o que é correto, de uma falta de bom senso. Senti-me de outro planeta, onde as pessoas tem um tipo de educação diferente, falam apenas para a pessoa a qual se destina a mensagem ouvir, respeitam a indicação de uma fila, placa ou assento. Pela primeira vez no Brasil me senti estrangeira.
Me tornei "gringa".

Julho/2015